("FUMUS BONI JÚRIS")

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TUDO ! ESPECIAL IGREJA UNIVERSAL


Especial A Igreja Universal sob
acusação



O Ministério Público de São Paulo acusa Edir Macedo
e mais nove integrantes da Igreja Universal de usar
o dinheiro de doações de fiéis para fazer negócios
e engordar o próprio patrimônio.

Fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo
é acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro
Há 32 anos, os templos da Igreja Universal do Reino de Deus recebem ricos e pobres, crédulos e descrentes, doentes, espossuídos e desesperados. A todos a igreja oferece consolo e,
muitas vezes, também uma porta de saída para escapar do vício, do crime e da solidão. Mas cobra caro por isso. Baseada numa particular Teologia da Prosperidade, a Universal, fundada e chefiada pelo bispo Edir Macedo, prega que a maior expressão da fé são as oferendas de dinheiro à igreja (e também de
carros, casas e cheques pré-datados). A ideia de que, "quanto mais se doa, mais Deus dá de volta", levada ao paroxismo pela eloquência dos bem treinados pastores da Universal, já fez com que almas crédulas arruinassem suas finanças, seu casamento, sua vida. O Código Penal, contudo, não alcança práticas religiosas. Em linhas gerais, se um brasileiro quiser doar tudo o que tem a qualquer igreja, estará livre para isso. E quem receber a doação também não encontrará empecilhos na legislação. O que não se pode é tapear a lei – e é precisamente isso o que vêm fazendo Macedo e outros nove integrantes da cúpula da Universal, segundo uma peça de acusação elaborada por promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo. A partir da denúncia oferecida pelo Gaeco, e aceita pela Justiça na última segunda-feira, Macedo e seu grupo tornaram-se
réus em um processo criminal sob as pesadas suspeitas de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Com base numa investigação de dois anos, o MP afirma que Macedo e seu grupo se converteram em uma organização criminosa ao usar as doações de fiéis para engordar seu próprio patrimônio – no caso do bispo, nada desprezível.
Além de dono de 90% da Rede Record, Macedo e a mulher, Ester Eunice Rangel Bezerra (ela, dona dos outros 10% da emissora, segundo aparece no contrato de concessão), têm dois apartamentos em condomínios de luxo em Miami, nos Estados Unidos: o primeiro, em nome de Ester, foi comprado em 2006 e está avaliado em 2,1 milhões de dólares. O segundo, registrado em nome do casal, foi adquirido no ano passado e custou mais do que o dobro do primeiro: 4,7 milhões de dólares.
Ambos ficam na Collins Avenue, um dos endereços mais sofisticados da cidade.

Segundo a denúncia do MP, além de enganar os fiéis embolsando o dinheiro que deveria ter destinação religiosa, a Universal burla o Fisco ao aproveitar-se de sua imunidade tributária e fazer transações comerciais. A imunidade fiscal
assegurada pela Constituição às igrejas baseia-se no princípio de que seu patrimônio, renda e serviços visam à atividade religiosa, e não ao lucro.
Quando o dinheiro dos fiéis é usado para comprar empresas e jatinhos – caso dos pastores da Universal, segundo o MP –, a Justiça tem de ser acionada.

Em 1997, uma auditoria da Receita Federal sobre as contas da Universal já havia produzido um relatório defendendo que ela perdesse a imunidade fiscal, uma vez que vinha fazendo uso do benefício para ganhar dinheiro. Dez anos mais tarde, ao analisar a situação de cinco igrejas evangélicas, entre elas a Universal, a mesma Receita chegou a iniciar um estudo para regulamentar o uso das doações de dinheiro originário da fé (livre de tributos) em empreendimentos tributáveis. O projeto não foi adiante. Para o advogado da Universal, Arthur Lavigne, a denúncia do Gaeco apenas reúne tudo o que já foi dito contra a igreja
desde 1992. Nesses dezessete anos, diz ele, houve mais de dez processos contra a Universal, e apenas dois estão em andamento, incluindo o que foi aceito pela Justiça na semana passada.
As primeiras investigações sobre as atividades de Edir Macedo e seu grupo na Igreja Universal começaram dois anos antes da investida da Receita. Em 1995, depois da divulgação de um vídeo em que Macedo aparecia ensinando pastores
a arrancar dinheiro de fiéis, autoridades federais deram início a uma varredura nas atividades da igreja, mas, até agora, poucas irregularidades haviam sido comprovadas. A diferença entre essas investigações anteriores e o trabalho do Gaeco é que, desta vez, os promotores conseguiram mapear o caminho do
dinheiro, desde as doações dos fiéis até a compra de duas emissoras de TV, um prédio e um jatinho modelo Cessna, por 2,5 milhões de reais.

Entre 2001 e 2008, a Universal, segundo os promotores, amealhou 8 bilhões de reais de seus cerca de 8 milhões de seguidores. Metade dessa dinheirama foi parar em contas bancárias da igreja por meio de 4 015 depósitos em espécie –
direto das sacolinhas dos dízimos. A outra metade chegou, principalmente, por meio de transferências eletrônicas provenientes de filiais da igreja espalhadas pelo país. A partir daí, o esquema funcionava da seguinte maneira, de acordo
com a acusação: a maior parte do dinheiro era repassada, a título de "pagamentos", para empresas de fachada controladas por integrantes do grupo, a Cremo Empreendimentos e a Unimetro Empreendimentos. Ambas movimentaram, entre 2004 e 2005, mais de 70 milhões de reais, ainda que não
tenham oferecido no período nenhum serviço ou produto, segundo atesta a Secretaria da Fazenda de São Paulo. Da Cremo e da Unimetro, o dinheiro dos fiéis era enviado para empresas sediadas em paraísos fiscais: a Investholding, nas Ilhas Cayman, e a CableInvest, nas Ilhas do Canal. De lá, retornava ao
Brasil disfarçado de empréstimos para pessoas ligadas à Universal, que usavam os valores para transações nada religiosas. Apesar do emaranhado trajeto percorrido pelo dinheiro, ele, na verdade, nunca saiu das mãos da cúpula da
Universal. A Cremo é de propriedade da Unimetro – que, por sua vez, pertence às duas empresas sediadas no exterior. No Brasil, a Investholding e a Cableinvest são representadas por Alba Maria da Costa e Osvaldo Sciorilli, executivos da Universal, ligados a diversas empresas do grupo e réus no processo.
Assim como o chefe, Alba e também Maurício Albuquerque e Silva, ex-diretor da Cremo e da Unimetro, são proprietários de imóveis em Miami.
O Gaeco sustenta que foi esse o esquema usado pela igreja para comprar, por exemplo, a TV Record do Rio de Janeiro e a TV Itajaí, de Santa Catarina.
Ao todo, o império de comunicação da Universal reúne 23 emissoras de TV, 42 emissoras de rádio e várias outras empresas. O do bispo prospera na mesma medida.
Em 2007, ele se esmerava na construção de uma casa de 2 000 metros quadrados em Campos do Jordão (SP), no valor de 6 milhões de reais. Naquele tempo, já era proprietário de outra casa na mesma cidade, comprada onze anos antes por 600 000 dólares. Somem-se a isso os imóveis de Miami e não restará
dúvida de que Macedo é um abençoado. Resta saber se à luz da lei tanta prosperidade também poderá ser comemorada.

CASA DE DEUS, CASA DO BISPO

Um dos templos da Universal em Belo Horizonte e a casa construída por Edir Macedo em Campos do Jordão
Com reportagem de Marina Yamaok


UM CORPO DE DUAS CABEÇAS
Nem por milagre é possível dissociar a Record da Igreja
Universal.
Até o presidente da emissora mora em uma casa pertencente
à Cremo, empresa acusada de lavar dinheiro para os bispos
Marcelo Marthe


Há 32 anos, os templos da
Igreja Universal do Reino de
Deus recebem ricos e
pobres, crédulos e
descrentes, doentes,
despossuídos e
desesperados. A todos a
igreja oferece consolo e,
muitas vezes, também uma porta de saída para escapar do vício, do crime e da
solidão. Mas cobra caro por isso. Baseada numa particular Teologia da
Prosperidade, a Universal, fundada e chefiada pelo bispo Edir Macedo, prega
que a maior expressão da fé são as oferendas de dinheiro à igreja (e também de
carros, casas e cheques pré-datados). A ideia de que, "quanto mais se doa,
mais Deus dá de volta", levada ao paroxismo pela eloquência dos bem treinados
pastores da Universal, já fez com que almas crédulas arruinassem suas
finanças, seu casamento, sua vida. O Código Penal, contudo, não alcança
práticas religiosas. Em linhas gerais, se um brasileiro quiser doar tudo o que tem
a qualquer igreja, estará livre para isso. E quem receber a doação também não
encontrará empecilhos na legislação. O que não se pode é tapear a lei – e é
precisamente isso o que vêm fazendo Macedo e outros nove integrantes da
cúpula da Universal, segundo uma peça de acusação elaborada por promotores
do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do
Ministério Público de São Paulo. A partir da denúncia oferecida pelo Gaeco, e
aceita pela Justiça na última segunda-feira, Macedo e seu grupo tornaram-se
réus em um processo criminal sob as pesadas suspeitas de formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro.
Com base numa investigação de dois anos, o MP afirma que Macedo e seu
grupo se converteram em uma organização criminosa ao usar as doações de
fiéis para engordar seu próprio patrimônio – no caso do bispo, nada desprezível.
Além de dono de 90% da Rede Record, Macedo e a mulher, Ester Eunice
Rangel Bezerra (ela, dona dos outros 10% da emissora, segundo aparece no
contrato de concessão), têm uma coleção de imóveis que incluem, apurou VEJA,
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
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dois apartamentos em condomínios de luxo em Miami, nos Estados Unidos: o
primeiro, em nome de Ester, foi comprado em 2006 e está avaliado em 2,1
milhões de dólares. O segundo, registrado em nome do casal, foi adquirido no
ano passado e custou mais do que o dobro do primeiro: 4,7 milhões de dólares.
Ambos ficam na Collins Avenue, um dos endereços mais sofisticados da cidade.
Segundo a denúncia do MP, além de enganar os fiéis embolsando o dinheiro que
deveria ter destinação religiosa, a Universal burla o Fisco ao aproveitar-se de
sua imunidade tributária e fazer transações comerciais. A imunidade fiscal
assegurada pela Constituição às igrejas baseia-se no princípio de que seu
patrimônio, renda e serviços visam à atividade religiosa, e não ao lucro. Quando
o dinheiro dos fiéis é usado para comprar empresas e jatinhos – caso dos
pastores da Universal, segundo o MP –, a Justiça tem de ser acionada.
Em 1997, uma auditoria da Receita Federal sobre as contas da Universal já
havia produzido um relatório defendendo que ela perdesse a imunidade fiscal,
uma vez que vinha fazendo uso do benefício para ganhar dinheiro. Dez anos
mais tarde, ao analisar a situação de cinco igrejas evangélicas, entre elas a
Universal, a mesma Receita chegou a iniciar um estudo para regulamentar o uso
das doações de dinheiro originário da fé (livre de tributos) em empreendimentos
tributáveis. O projeto não foi adiante. Para o advogado da Universal, Arthur
Lavigne, a denúncia do Gaeco apenas reúne tudo o que já foi dito contra a igreja
desde 1992. Nesses dezessete anos, diz ele, houve mais de dez processos
contra a Universal, e apenas dois estão em andamento, incluindo o que foi
aceito pela Justiça na semana passada.
As primeiras investigações sobre as atividades de Edir Macedo e seu grupo na
Igreja Universal começaram dois anos antes da investida da Receita. Em 1995,
depois da divulgação de um vídeo em que Macedo aparecia ensinando pastores
a arrancar dinheiro de fiéis, autoridades federais deram início a uma varredura
nas atividades da igreja, mas, até agora, poucas irregularidades haviam sido
comprovadas. A diferença entre essas investigações anteriores e o trabalho do
Gaeco é que, desta vez, os promotores conseguiram mapear o caminho do
dinheiro, desde as doações dos fiéis até a compra de duas emissoras de TV, um
prédio e um jatinho modelo Cessna, por 2,5 milhões de reais.
Entre 2001 e 2008, a Universal, segundo os promotores, amealhou 8 bilhões de
reais de seus cerca de 8 milhões de seguidores. Metade dessa dinheirama foi
parar em contas bancárias da igreja por meio de 4 015 depósitos em espécie –
direto das sacolinhas dos dízimos. A outra metade chegou, principalmente, por
meio de transferências eletrônicas provenientes de filiais da igreja espalhadas
pelo país. A partir daí, o esquema funcionava da seguinte maneira, de acordo
com a acusação: a maior parte do dinheiro era repassada, a título de
"pagamentos", para empresas de fachada controladas por integrantes do grupo,
a Cremo Empreendimentos e a Unimetro Empreendimentos. Ambas
movimentaram, entre 2004 e 2005, mais de 70 milhões de reais, ainda que não
tenham oferecido no período nenhum serviço ou produto, segundo atesta a
Secretaria da Fazenda de São Paulo. Da Cremo e da Unimetro, o dinheiro dos
fiéis era enviado para empresas sediadas em paraísos fiscais: a Investholding,
nas Ilhas Cayman, e a CableInvest, nas Ilhas do Canal. De lá, retornava ao
Brasil disfarçado de empréstimos para pessoas ligadas à Universal, que usavam
os valores para transações nada religiosas. Apesar do emaranhado trajeto
percorrido pelo dinheiro, ele, na verdade, nunca saiu das mãos da cúpula da
Universal. A Cremo é de propriedade da Unimetro – que, por sua vez, pertence
às duas empresas sediadas no exterior. No Brasil, a Investholding e a
Cableinvest são representadas por Alba Maria da Costa e Osvaldo Sciorilli,
executivos da Universal, ligados a diversas empresas do grupo e réus no
processo. Assim como o chefe, Alba e também Maurício Albuquerque e Silva,
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
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ex-diretor da Cremo e da Unimetro, são proprietários de imóveis em Miami.
O Gaeco sustenta que foi esse o esquema usado pela igreja para comprar, por
exemplo, a TV Record do Rio de Janeiro e a TV Itajaí, de Santa Catarina. Ao
todo, o império de comunicação da Universal reúne 23 emissoras de TV, 42
emissoras de rádio e várias outras empresas. O do bispo prospera na mesma
medida. Em 2007, ele se esmerava na construção de uma casa de 2 000 metros
quadrados em Campos do Jordão (SP), no valor de 6 milhões de reais. Naquele
tempo, já era proprietário de outra casa na mesma cidade, comprada onze anos
antes por 600 000 dólares. Somem-se a isso os imóveis de Miami e não restará
dúvida de que Macedo é um abençoado. Resta saber se à luz da lei tanta
prosperidade também poderá ser comemorada.
Jose Patricio/AE e Marcos Fernades
CASA DE DEUS, CASA DO BISPO
Um dos templos da Universal em Belo Horizonte e a casa construída por Edir Macedo em Campos do Jordão
Com reportagem de Marina Yamaok
UM CORPO DE DUAS CABEÇAS
Nem por milagre é possível dissociar a Record da Igreja
Universal.
Até o presidente da emissora mora em uma casa pertencente
à Cremo, empresa acusada de lavar dinheiro para os bispos
Marcelo Marthe
Fotos Ricardo Benichio e Thiago Bernardes
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
4 de 19 16/8/2009 16:19
O ESPÍRITO E A CARNE
Um dos bispos do Fala que Eu Te Escuto e os participantes do reality show A Fazenda (à dir.): as duas faces de
várias moedas
Na semana passada, o
profano e o religioso se
confundiam na programação
da Rede Record. No horário
nobre, o Jornal da
Record reagiu às denúncias contra Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do
Reino de Deus, por meio de reportagens que atacavam o Ministério Público e a
concorrente Globo. De madrugada, um programa da própria igreja veiculado na
emissora, o Fala que Eu Te Escuto, repetia as mesmas reportagens à
exaustão. É mais uma evidência de que, a despeito das afirmações de
independência da emissora, Universal e Record são metades inseparáveis de
um só organismo. Pessoas ligadas à igreja ocupam a maioria dos cargos de
direção da emissora. A Universal repassa anualmente à Record montantes
crescentes de recursos – foram 240 milhões de reais em 2006, 320 milhões em
2007 e 400 milhões em 2008. Pertencem a ela, ainda, alguns dos principais
imóveis onde a Record está sediada. Boa parte das regalias de seus executivos
não sai do caixa da própria emissora: na semana passada, VEJA constatou que
um deles mora num imóvel pertencente à Cremo, uma das empresas do
esquema de lavagem de dinheiro denunciado pelo Ministério Público.
Nos últimos cinco anos, Macedo comandou um esforço de marketing para
desvincular a imagem de seu império de comunicação das atividades religiosas.
A rede investiu centenas de milhões de reais para modernizar sua programação
com novelas como Poder Paralelo e o reality show A Fazenda. O
televangelismo, antes salpicado por vários horários ao longo do dia, foi restrito
às madrugadas – e se adotou o discurso de que a Universal é apenas uma
anunciante como outra qualquer. Não é. Levantamento do Coaf, órgão do
Ministério da Fazenda responsável pela fiscalização das operações financeiras
no país, mostrou que a Record é a segunda entre as cinquenta principais
beneficiárias de transferências bancárias da Universal (a primeira é própria
igreja). A compra dos horários na madrugada é um modo de justificar do ponto
de vista legal esse aporte vultoso de recursos, que representa uma vantagem
competitiva e tanto para a Record diante das concorrentes. A Universal paga à
emissora um valor acima de 200 000 reais por hora numa faixa em que ela
obtém mísero 1,4 ponto de ibope – enquanto a Globo fatura em média 50 000
por hora no mesmo período, e com audiência bem maior, na casa dos 6
pontos (veja quadro abaixo). Apesar dessa distorção comercial, até agora não
se questionou a fórmula de legalização desse duto que abastece a Record com
o dízimo dos fiéis.
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
5 de 19 16/8/2009 16:19
Bispos "licenciados" ocupam os cargos-chave da Record. Honorilton Gonçalves,
um dos denunciados pelo Ministério Público, é o mandachuva da emissora. Os
bispos respondem ainda pela área de engenharia e vendas internacionais. Os
"obreiros" da Universal, ajudantes leigos, ocupam postos intermediários e
funções como as de faxineiro e segurança. A igreja paga para que fiéis e
pastores façam cursos como jornalismo e administração, com o intuito de
aproveitá-los nos quadros da Record. O atual presidente da emissora, Alexandre
Raposo, vive com a família em uma casa num condomínio de luxo em Barueri,
na Grande São Paulo, que – conforme VEJA apurou – está registrada em
cartório como parte de um conjunto de lotes pertencentes à Cremo
Empreendimentos (a assessoria de imprensa da Record limita-se a informar que
Raposo vive "num imóvel alugado"). As instalações mais importantes da rede em
São Paulo não estão no nome da Record, mas da Igreja Universal. Incluem-se aí
o terreno principal da sede da emissora, na Barra Funda, e o edifício no bairro
dos Jardins, área nobre da cidade, em que funcionam sua assessoria de
imprensa, o departamento comercial e o Instituto Ressoar – braço filantrópico da
Record. A emissora alega que paga aluguel mensal pela ocupação do prédio nos
Jardins – e não confirma a propriedade do terreno na Barra Funda.
A comunhão espiritual entre Record e Universal também se dá pela via contrária:
a igreja se utiliza fartamente dos recursos e do material produzido pela emissora.
Num dos QGs de Edir Macedo – o templo localizado na Avenida João Dias, em
São Paulo, onde ele e seus principais auxiliares moram quando estão na cidade
–, carros de reportagem da emissora ficam à disposição dos bispos doFala que
Eu Te Escuto. As equipes do programa utilizam equipamentos da Record para
produzir entrevistas nas ruas – e seus repórteres exibem o microfone com o
logotipo da rede. Nos bastidores da emissora, artistas e jornalistas reclamam de
ver suas atrações na Record serem recicladas no programa dos bispos – sem
ganhar adicional de salário por isso.
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
6 de 19 16/8/2009 16:19
Com reportagem de Bruno Meier
Por que os fiéis doam tanto
Para ganhar a bênção divina, curar-se de doenças, conseguir
emprego ou pôr fim a outras aflições. É uma prática antiga, que
está no cerne de todas as religiões, mas que a Igreja Universal do Reino de Deus elevou a um patamar inédito.


Adriana Dias Lopes e Fábio Portela
Fotos Jorge Junqueira/Divulgação/Reprodução
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
7 de 19 16/8/2009 16:19


O REBANHO E O PASTOR
À esquerda, milhares de fiéis lotam um templo da Igreja Universal, no Rio de Janeiro, prontos a fazer doações. À
direita, o bispo Edir Macedo, em 1995, não esconde sua satisfação ao pôr a mão em um bolo de dólares durante
culto realizado no Madison Square Garden, em Nova York
A Igreja Universal do Reino de Deus é uma potência tanto do ponto de vista
religioso quanto do econômico – e uma coisa tem tudo a ver com a outra. Os
bispos liderados por Edir Macedo arrastam multidões a seus cultos e
conseguem fazer com que elas doem verdadeiras fortunas à igreja. A Universal
ocupa o terceiro lugar no ranking das maiores instituições religiosas do país,
atrás apenas da Igreja Católica e da Assembleia de Deus, também pentecostal.
O bispo Macedo controla um império da fé que conta com 4 700 templos,
espalhados por mais de 1 500 cidades, em 172 países. Segundo as estimativas
mais recentes, seu rebanho já chega a 8 milhões de pessoas. Essa massa de
fiéis é a responsável pelos exuberantes resultados financeiros ostentados pela
igreja. A cada ano, a organização do bispo Macedo recebe 1,4 bilhão de reais
em doações.
Não há nenhum pecado no fato de uma igreja pedir donativos aos fiéis para
sustentar suas atividades. Organizações religiosas também precisam de
dinheiro para se manter – é uma prática prevista em lei e que goza de imunidade
fiscal. A doação religiosa remonta a Abraão, o personagem bíblico que decidiu
repartir seus ganhos com Deus. Ele doou parte do espólio de uma guerra a um
sacerdote chamado Melquisedeque como forma de gratidão por ter sido
abençoado. O bispo Macedo, portanto, não inaugurou nenhum capítulo novo na
história das religiões ao pedir doações, mas é inegável que ele levou esse hábito a um patamar inédito.


Fernando Cavalcanti CONSELHO DA IGREJA

"Em 2007, eu estava em dificuldades
financeiras e pedi aconselhamento a um
pastor da Universal. Ele disse que minha vida
só melhoraria se eu doasse dinheiro à igreja.
Contei a ele que meu marido estava com 2
800 reais guardados em casa, pois havia
vendido um carro. O pastor disse que era
pouco e perguntou se eu não conseguiria
mais. Respondi que havia também 400 reais
separados para o aluguel. Ele pediu que eu
inteirasse 3 000 reais e levasse à igreja na
mesma hora. Fiz o que ele mandou. Quando
meu marido descobriu, ficou muito bravo. No
dia seguinte, fomos ao templo pedir ao pastor
para devolver o dinheiro. Ele disse que era
impossível, falou que eu estava com um
encosto e ainda mandou meu marido fazer
um BO contra mim por furto. Hoje, me
arrependo de ter caído naquela conversa."
Simone Vitório, 31 anos, cabeleireira (ao
lado do marido, Aparecido)
Macedo arrecada muito porque tem método: ele colocou o dinheiro no centro de
seu discurso teológico. Se os católicos veem na doação uma oportunidade de
praticar a virtude da caridade, a Universal tem uma visão muito mais pragmática
do assunto. A igreja se inspirou nos preceitos da Teologia da Prosperidade,
criada por pentecostais americanos no início do século XX, para desenvolver
uma linha de raciocínio na qual o fiel faz um "toma lá dá cá" com Deus. Na
Universal, ensina-se que a felicidade terrena é uma concessão divina. Apenas
quem é abençoado consegue ter uma vida livre de sofrimentos e repleta de
saúde e prosperidade material. Para alcançar a graça, no entanto, é preciso
viver fervorosamente a experiência da fé e, sobretudo, demonstrá-la. E a melhor
forma de fazer isso é entregar dinheiro aos representantes de Deus – no caso,
os bispos da Universal – para que ele seja misticamente multiplicado. A doação
é um investimento. Quanto mais o fiel der à igreja, mais receberá de Deus no
futuro.
A principal modalidade de doação é o pagamento de dízimo. Cada seguidor da
igreja entrega 10% de seus ganhos mensais para financiar a obra de Deus.
Além disso, os pastores estimulam doações extras – eles precisam cumprir
metas de arrecadação para ter prestígio dentro da igreja. "Durante os cultos, é
comum ouvir frases do tipo: 'Hoje precisamos de 10% para o Pai, 10% para o
Filho e 10% para o Espírito Santo'. Eles são extremamente criativos", diz o
sociólogo Ricardo Mariano, da PUC do Rio Grande do Sul. Duas vezes por ano,
é organizada em todos os templos a Fogueira Santa de Israel. Trata-se de uma
campanha de arrecadação suplementar em que os fiéis escrevem pedidos em
pedaços de papel e os pastores se comprometem a levar as anotações até
Israel, onde estariam mais perto de Deus. Paralelamente, cria-se um clima de
catarse nos templos e as pessoas são estimuladas a fazer doações altíssimas
para mostrar a Deus que aceitam se sacrificar pela igreja. Muitos doam todo o
dinheiro que têm e, depois disso, joias, relógios, carros, computadores e até
imóveis.
QUEM TEM MAIS FÉ DOA MAIS
"Fiquei muito decepcionado com a Igreja
Universal. Dei tudo o que podia em busca de uma
vida mais feliz. Lá, me diziam que a fé se mede
com dinheiro – quem tem mais fé doa mais à
igreja. Quem tem fé pequena doa pouco. Numa
das campanhas da Fogueira Santa, quando os
fiéis dão o que podem e o que não podem, fiz um
esforço enorme. Vendi uma chácara que eu tinha
e dei tudo para a igreja. Também entreguei meus
salários, 13º, férias, vale-transporte e tíqueterefeição.
Pegava empréstimo em bancos para
dar aos bispos. Eu só queria levar uma vida
normal, curar minha depressão, casar, ter filhos.
Fiz de tudo, mas nada aconteceu. O que restou
foi tristeza e angústia. E muitas dívidas também."
Edson Luis de Melo, 45 anos, aposentado (na
foto, com a mãe, Dulce)
A maioria dos seguidores de Edir Macedo, gente humilde, com renda familiar de
três salários mínimos e que estudou, em média, até a 6ª série do ensino
fundamental, aceita esse discurso e se mostra satisfeita em ajudar a engordar o
caixa da organização. Eles acreditam que, de alguma forma, são beneficiados
ao se desfazer de suas economias. Mas o fervor pecuniário dos bispos tem
levado muitos fiéis a enfrentar a ruína financeira no afã de agradar a Deus. Há
gente que, depois de chegar à conclusão de que estava sendo ludibriada, decide
entrar na Justiça para reaver o dinheiro que entregou ao bispo Macedo.
Maria Moreira de Pinho, de 72 anos, que vive em São Paulo, é uma dessas
pessoas. Ela entrou na Universal em 1991. Em seis anos, vendeu dois
apartamentos, algumas ações e as duas máquinas de costura, sua antiga forma
de sustento, para arrecadar dinheiro para a igreja. Entregou mais de 100.000
reais aos pastores. "Dei tudo o que tinha pela promessa de ser abençoada", diz.
Anos depois, na miséria, ela se revoltou. "Como alguém que passa necessidade
e tem de morar de favor pode se considerar abençoada?", indaga. Maria decidiu
processar a Universal para reaver seu dinheiro. Apesar disso, não perdeu a fé.
Continua evangélica, mas passou a frequentar a Igreja Internacional da Graça
de Deus, do cunhado de Edir Macedo, o missionário R.R. Soares. "Agora, pago
só o dízimo. Estou aliviada por não ter mais de fazer a Fogueira, prometer
dinheiro, vender coisas para dar à igreja", afirma ela. Maria encarna o
pensamento médio do cristão pentecostal. Não está arrependida por ter dado
dinheiro, mas por não ter recebido a bênção divina em troca. O "toma lá dá cá"
não funcionou. Para evitar defecções como essa, os pastores dizem que, se a
graça divina não é concedida, a culpa nunca é de Deus, mas do próprio cristão,
que teve pouca fé e não se empenhou como deveria. Como se redimir?
Aumentando o ritmo das doações, é claro.
Manoel Marques
EU FAZIA LAVAGEM
CEREBRAL
"Para me tornar pastor, tive de
vender minha casa e doar o
dinheiro à igreja. Disseram que era
um jeito de provar que Deus estava
no meu coração. Quando comecei
a pregar, participava de reuniões
periódicas para falar sobre metas
de arrecadação. Eu fazia uma
verdadeira lavagem cerebral nos
fiéis para convencê-los a doar mais
dinheiro. Precisava levantar 150
000 reais mensais em doações e,
depois, aumentar 20% a cada mês.
Cheguei a ir para o hospital,
tamanha a pressão. Houve um mês em que consegui apenas 120 000 reais. Por não bater a meta, fui
xingado de burro e endemoninhado
por um bispo. Depois disso, decidi abandonar a Universal."
Jenilton Melo dos Santos, 44 anos, ex-pastor.

Exemplos de fiéis da Universal que ficaram na miséria se acumulam. Há casos trágicos, como o do ex-porteiro Edson Luis de Melo, que sofre de depressão severa e entregou cada centavo de seu modesto patrimônio na esperança de ser curado. "Ele achava que a igreja poderia salvá-lo do sofrimento psicológico.
Quando não estava trabalhando, estava no culto. No final, doava todo o salário.
Não sobrava nada para ele. Esses cinco anos o levaram à falência e à loucura", diz sua mãe, Dulce, que precisou interditar o filho na Justiça para impedi-lo de continuar doando. Outras histórias beiram o anedótico, como a de Gláucio Verdi, que ficou apenas um ano na Universal e acabou com o nome sujo na praça.
Verdi passou a frequentar cultos em 2004, quando estava desempregado. Entregou um cheque pré-datado de 1 000 reais ao pastor, sem ter dinheiro no banco. Ele esperava vender uma lambreta para cobrir o pagamento. Como não conseguiu, pediu que o cheque fosse devolvido. Nada feito: a Fogueira de Israel
não admite passo atrás. A Universal depositou o cheque de Gláucio e ele está no cadastro negativo do Serasa até hoje.
Todo grupo religioso, seja qual for sua origem, deve ter o direito de professar sua fé em paz. Esse é um dos pilares que sustentam o estado democrático de direito. Perseguições de caráter religioso sempre estiveram entre as piores monstruosidades perpetradas pela humanidade. Mas quem se propõe a guiar um
rebanho deveria saber que uma alma que busca conforto na religião para superar um momento de fragilidade emocional atravessa um período de vulnerabilidade. É capaz de tomar atitudes impensadas, com consequências drásticas para seu destino.

O padre gastão
Fabio Gonçalves/Ag. O Dia

SOB SUSPEITA
Steckel esteve à frente das finanças da Arquidiocese do Rio de
Janeiro por pouco mais de um ano. Não tem, assim, um tamanho Universal, mas não deixa de ser um escândalo. A Arquidiocese do Rio de Janeiro está promovendo uma sindicância interna para apurar malversação de
recursos e desvio de verbas entre janeiro de 2008 e abril deste ano, durante a gestão do cardeal-arcebispo dom Eusébio Scheid. O pivô da crise é o padre Edvino Steckel, responsável
pelas finanças da arquidiocese, que tem 200 funcionários, uma folha de pagamento de 400.000 reais e é dona de centenas de imóveis na cidade. Em pouco mais de um ano, o padre
adotou critérios de administração bem pessoais, digamos. Comprou um carro oficial avaliado em 85 000 reais e decorou sua sala com dois sofás e duas poltronas ao custo de 52 000
reais. Os gastos do padre Steckel eram conhecidos, assim como seu gosto por vinhos caros e suas boas relações com socialites e políticos cariocas. Até abril, quando dom Scheid
passou o comando da arquidiocese para dom Orani Tempesta, eram vistos como simples extravagâncias. Foi quando veio a público a compra de um apartamento de 500 metros
quadrados, numa das áreas mais caras da cidade. O preço declarado foi de 2,2 milhões de
reais. Steckel foi afastado. Se ficar caracterizado o desvio de dinheiro, o caso será levado à polícia.

O culto à prosperidade.

Os evangélicos, e em especial os da vertente pentecostal,
ajudaram a criar na América Latina um ambiente social
favorável à ética do trabalho e da conquista pessoal.

FERVOR Culto evangélico em Santiago do Chile: na América Latina, 40 milhões são pentecostais. Os escândalos envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus são apenas uma face feia de um movimento religioso que, em pouco mais de 100 anos,
construiu na América Latina uma história inspiradora, estendendo a mão àqueles que buscavam conforto espiritual em uma nova fé. Os evangélicos são herdeiros de uma tradição protestante que encontrou solo fértil nos Estados Unidos, baseada no comprometimento pessoal com Cristo e na adesão estrita à Bíblia. A vertente evangélica mais bem-sucedida no subcontinente é a pentecostal, que une a ortodoxia bíblica à ênfase na salvação por meio de milagres. Dois em cada três evangélicos latino-americanos são pentecostais ou
neopentecostais – subcorrente que inclui a Igreja Universal. Na América Latina, aonde chegaram por meio de missionários americanos e europeus, as igrejas evangélicas difundiram a ética do trabalho e da realização pessoal e deram um senso de comunidade aos migrantes rurais que vinham para as cidades. A
flexibilidade na hierarquia religiosa – qualquer um pode ser pastor, mesmo sem estudos – também ajudou a conquistar adeptos, principalmente entre as massas iletradas. Nos últimos quarenta anos, a população evangélica na América Latina pulou de 15 milhões para mais de 60 milhões de fiéis. Elas seguem uma grande variedade de denominações, algumas autóctones, outras filiais de igrejas brasileiras e americanas.

O pentecostalismo, com sua doutrina do bem-estar econômico indissociável da espiritualidade religiosa, teve o mérito de barrar o avanço de ideologias revolucionárias de esquerda na América Latina. As novas fés protestantes abordam o descontentamento social de maneira radicalmente diferente das
teorias marxistas. Para os pentecostais, a pobreza é resultado do fracasso pessoal, não de um sistema econômico injusto. Na década de 70, quando as igrejas pentecostais começaram a crescer mais rapidamente na América Latina, o foco no conforto espiritual e na realização material serviu como contraponto à
Teologia da Libertação, aquela estranha concepção marxista de catolicismo que transformou Jesus Cristo numa espécie de Che Guevara da Antiguidade.

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