("FUMUS BONI JÚRIS")

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TUDO ! ESPECIAL IGREJA UNIVERSAL


Especial A Igreja Universal sob
acusação



O Ministério Público de São Paulo acusa Edir Macedo
e mais nove integrantes da Igreja Universal de usar
o dinheiro de doações de fiéis para fazer negócios
e engordar o próprio patrimônio.

Fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo
é acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro
Há 32 anos, os templos da Igreja Universal do Reino de Deus recebem ricos e pobres, crédulos e descrentes, doentes, espossuídos e desesperados. A todos a igreja oferece consolo e,
muitas vezes, também uma porta de saída para escapar do vício, do crime e da solidão. Mas cobra caro por isso. Baseada numa particular Teologia da Prosperidade, a Universal, fundada e chefiada pelo bispo Edir Macedo, prega que a maior expressão da fé são as oferendas de dinheiro à igreja (e também de
carros, casas e cheques pré-datados). A ideia de que, "quanto mais se doa, mais Deus dá de volta", levada ao paroxismo pela eloquência dos bem treinados pastores da Universal, já fez com que almas crédulas arruinassem suas finanças, seu casamento, sua vida. O Código Penal, contudo, não alcança práticas religiosas. Em linhas gerais, se um brasileiro quiser doar tudo o que tem a qualquer igreja, estará livre para isso. E quem receber a doação também não encontrará empecilhos na legislação. O que não se pode é tapear a lei – e é precisamente isso o que vêm fazendo Macedo e outros nove integrantes da cúpula da Universal, segundo uma peça de acusação elaborada por promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo. A partir da denúncia oferecida pelo Gaeco, e aceita pela Justiça na última segunda-feira, Macedo e seu grupo tornaram-se
réus em um processo criminal sob as pesadas suspeitas de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Com base numa investigação de dois anos, o MP afirma que Macedo e seu grupo se converteram em uma organização criminosa ao usar as doações de fiéis para engordar seu próprio patrimônio – no caso do bispo, nada desprezível.
Além de dono de 90% da Rede Record, Macedo e a mulher, Ester Eunice Rangel Bezerra (ela, dona dos outros 10% da emissora, segundo aparece no contrato de concessão), têm dois apartamentos em condomínios de luxo em Miami, nos Estados Unidos: o primeiro, em nome de Ester, foi comprado em 2006 e está avaliado em 2,1 milhões de dólares. O segundo, registrado em nome do casal, foi adquirido no ano passado e custou mais do que o dobro do primeiro: 4,7 milhões de dólares.
Ambos ficam na Collins Avenue, um dos endereços mais sofisticados da cidade.

Segundo a denúncia do MP, além de enganar os fiéis embolsando o dinheiro que deveria ter destinação religiosa, a Universal burla o Fisco ao aproveitar-se de sua imunidade tributária e fazer transações comerciais. A imunidade fiscal
assegurada pela Constituição às igrejas baseia-se no princípio de que seu patrimônio, renda e serviços visam à atividade religiosa, e não ao lucro.
Quando o dinheiro dos fiéis é usado para comprar empresas e jatinhos – caso dos pastores da Universal, segundo o MP –, a Justiça tem de ser acionada.

Em 1997, uma auditoria da Receita Federal sobre as contas da Universal já havia produzido um relatório defendendo que ela perdesse a imunidade fiscal, uma vez que vinha fazendo uso do benefício para ganhar dinheiro. Dez anos mais tarde, ao analisar a situação de cinco igrejas evangélicas, entre elas a Universal, a mesma Receita chegou a iniciar um estudo para regulamentar o uso das doações de dinheiro originário da fé (livre de tributos) em empreendimentos tributáveis. O projeto não foi adiante. Para o advogado da Universal, Arthur Lavigne, a denúncia do Gaeco apenas reúne tudo o que já foi dito contra a igreja
desde 1992. Nesses dezessete anos, diz ele, houve mais de dez processos contra a Universal, e apenas dois estão em andamento, incluindo o que foi aceito pela Justiça na semana passada.
As primeiras investigações sobre as atividades de Edir Macedo e seu grupo na Igreja Universal começaram dois anos antes da investida da Receita. Em 1995, depois da divulgação de um vídeo em que Macedo aparecia ensinando pastores
a arrancar dinheiro de fiéis, autoridades federais deram início a uma varredura nas atividades da igreja, mas, até agora, poucas irregularidades haviam sido comprovadas. A diferença entre essas investigações anteriores e o trabalho do Gaeco é que, desta vez, os promotores conseguiram mapear o caminho do
dinheiro, desde as doações dos fiéis até a compra de duas emissoras de TV, um prédio e um jatinho modelo Cessna, por 2,5 milhões de reais.

Entre 2001 e 2008, a Universal, segundo os promotores, amealhou 8 bilhões de reais de seus cerca de 8 milhões de seguidores. Metade dessa dinheirama foi parar em contas bancárias da igreja por meio de 4 015 depósitos em espécie –
direto das sacolinhas dos dízimos. A outra metade chegou, principalmente, por meio de transferências eletrônicas provenientes de filiais da igreja espalhadas pelo país. A partir daí, o esquema funcionava da seguinte maneira, de acordo
com a acusação: a maior parte do dinheiro era repassada, a título de "pagamentos", para empresas de fachada controladas por integrantes do grupo, a Cremo Empreendimentos e a Unimetro Empreendimentos. Ambas movimentaram, entre 2004 e 2005, mais de 70 milhões de reais, ainda que não
tenham oferecido no período nenhum serviço ou produto, segundo atesta a Secretaria da Fazenda de São Paulo. Da Cremo e da Unimetro, o dinheiro dos fiéis era enviado para empresas sediadas em paraísos fiscais: a Investholding, nas Ilhas Cayman, e a CableInvest, nas Ilhas do Canal. De lá, retornava ao
Brasil disfarçado de empréstimos para pessoas ligadas à Universal, que usavam os valores para transações nada religiosas. Apesar do emaranhado trajeto percorrido pelo dinheiro, ele, na verdade, nunca saiu das mãos da cúpula da
Universal. A Cremo é de propriedade da Unimetro – que, por sua vez, pertence às duas empresas sediadas no exterior. No Brasil, a Investholding e a Cableinvest são representadas por Alba Maria da Costa e Osvaldo Sciorilli, executivos da Universal, ligados a diversas empresas do grupo e réus no processo.
Assim como o chefe, Alba e também Maurício Albuquerque e Silva, ex-diretor da Cremo e da Unimetro, são proprietários de imóveis em Miami.
O Gaeco sustenta que foi esse o esquema usado pela igreja para comprar, por exemplo, a TV Record do Rio de Janeiro e a TV Itajaí, de Santa Catarina.
Ao todo, o império de comunicação da Universal reúne 23 emissoras de TV, 42 emissoras de rádio e várias outras empresas. O do bispo prospera na mesma medida.
Em 2007, ele se esmerava na construção de uma casa de 2 000 metros quadrados em Campos do Jordão (SP), no valor de 6 milhões de reais. Naquele tempo, já era proprietário de outra casa na mesma cidade, comprada onze anos antes por 600 000 dólares. Somem-se a isso os imóveis de Miami e não restará
dúvida de que Macedo é um abençoado. Resta saber se à luz da lei tanta prosperidade também poderá ser comemorada.

CASA DE DEUS, CASA DO BISPO

Um dos templos da Universal em Belo Horizonte e a casa construída por Edir Macedo em Campos do Jordão
Com reportagem de Marina Yamaok


UM CORPO DE DUAS CABEÇAS
Nem por milagre é possível dissociar a Record da Igreja
Universal.
Até o presidente da emissora mora em uma casa pertencente
à Cremo, empresa acusada de lavar dinheiro para os bispos
Marcelo Marthe


Há 32 anos, os templos da
Igreja Universal do Reino de
Deus recebem ricos e
pobres, crédulos e
descrentes, doentes,
despossuídos e
desesperados. A todos a
igreja oferece consolo e,
muitas vezes, também uma porta de saída para escapar do vício, do crime e da
solidão. Mas cobra caro por isso. Baseada numa particular Teologia da
Prosperidade, a Universal, fundada e chefiada pelo bispo Edir Macedo, prega
que a maior expressão da fé são as oferendas de dinheiro à igreja (e também de
carros, casas e cheques pré-datados). A ideia de que, "quanto mais se doa,
mais Deus dá de volta", levada ao paroxismo pela eloquência dos bem treinados
pastores da Universal, já fez com que almas crédulas arruinassem suas
finanças, seu casamento, sua vida. O Código Penal, contudo, não alcança
práticas religiosas. Em linhas gerais, se um brasileiro quiser doar tudo o que tem
a qualquer igreja, estará livre para isso. E quem receber a doação também não
encontrará empecilhos na legislação. O que não se pode é tapear a lei – e é
precisamente isso o que vêm fazendo Macedo e outros nove integrantes da
cúpula da Universal, segundo uma peça de acusação elaborada por promotores
do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do
Ministério Público de São Paulo. A partir da denúncia oferecida pelo Gaeco, e
aceita pela Justiça na última segunda-feira, Macedo e seu grupo tornaram-se
réus em um processo criminal sob as pesadas suspeitas de formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro.
Com base numa investigação de dois anos, o MP afirma que Macedo e seu
grupo se converteram em uma organização criminosa ao usar as doações de
fiéis para engordar seu próprio patrimônio – no caso do bispo, nada desprezível.
Além de dono de 90% da Rede Record, Macedo e a mulher, Ester Eunice
Rangel Bezerra (ela, dona dos outros 10% da emissora, segundo aparece no
contrato de concessão), têm uma coleção de imóveis que incluem, apurou VEJA,
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
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dois apartamentos em condomínios de luxo em Miami, nos Estados Unidos: o
primeiro, em nome de Ester, foi comprado em 2006 e está avaliado em 2,1
milhões de dólares. O segundo, registrado em nome do casal, foi adquirido no
ano passado e custou mais do que o dobro do primeiro: 4,7 milhões de dólares.
Ambos ficam na Collins Avenue, um dos endereços mais sofisticados da cidade.
Segundo a denúncia do MP, além de enganar os fiéis embolsando o dinheiro que
deveria ter destinação religiosa, a Universal burla o Fisco ao aproveitar-se de
sua imunidade tributária e fazer transações comerciais. A imunidade fiscal
assegurada pela Constituição às igrejas baseia-se no princípio de que seu
patrimônio, renda e serviços visam à atividade religiosa, e não ao lucro. Quando
o dinheiro dos fiéis é usado para comprar empresas e jatinhos – caso dos
pastores da Universal, segundo o MP –, a Justiça tem de ser acionada.
Em 1997, uma auditoria da Receita Federal sobre as contas da Universal já
havia produzido um relatório defendendo que ela perdesse a imunidade fiscal,
uma vez que vinha fazendo uso do benefício para ganhar dinheiro. Dez anos
mais tarde, ao analisar a situação de cinco igrejas evangélicas, entre elas a
Universal, a mesma Receita chegou a iniciar um estudo para regulamentar o uso
das doações de dinheiro originário da fé (livre de tributos) em empreendimentos
tributáveis. O projeto não foi adiante. Para o advogado da Universal, Arthur
Lavigne, a denúncia do Gaeco apenas reúne tudo o que já foi dito contra a igreja
desde 1992. Nesses dezessete anos, diz ele, houve mais de dez processos
contra a Universal, e apenas dois estão em andamento, incluindo o que foi
aceito pela Justiça na semana passada.
As primeiras investigações sobre as atividades de Edir Macedo e seu grupo na
Igreja Universal começaram dois anos antes da investida da Receita. Em 1995,
depois da divulgação de um vídeo em que Macedo aparecia ensinando pastores
a arrancar dinheiro de fiéis, autoridades federais deram início a uma varredura
nas atividades da igreja, mas, até agora, poucas irregularidades haviam sido
comprovadas. A diferença entre essas investigações anteriores e o trabalho do
Gaeco é que, desta vez, os promotores conseguiram mapear o caminho do
dinheiro, desde as doações dos fiéis até a compra de duas emissoras de TV, um
prédio e um jatinho modelo Cessna, por 2,5 milhões de reais.
Entre 2001 e 2008, a Universal, segundo os promotores, amealhou 8 bilhões de
reais de seus cerca de 8 milhões de seguidores. Metade dessa dinheirama foi
parar em contas bancárias da igreja por meio de 4 015 depósitos em espécie –
direto das sacolinhas dos dízimos. A outra metade chegou, principalmente, por
meio de transferências eletrônicas provenientes de filiais da igreja espalhadas
pelo país. A partir daí, o esquema funcionava da seguinte maneira, de acordo
com a acusação: a maior parte do dinheiro era repassada, a título de
"pagamentos", para empresas de fachada controladas por integrantes do grupo,
a Cremo Empreendimentos e a Unimetro Empreendimentos. Ambas
movimentaram, entre 2004 e 2005, mais de 70 milhões de reais, ainda que não
tenham oferecido no período nenhum serviço ou produto, segundo atesta a
Secretaria da Fazenda de São Paulo. Da Cremo e da Unimetro, o dinheiro dos
fiéis era enviado para empresas sediadas em paraísos fiscais: a Investholding,
nas Ilhas Cayman, e a CableInvest, nas Ilhas do Canal. De lá, retornava ao
Brasil disfarçado de empréstimos para pessoas ligadas à Universal, que usavam
os valores para transações nada religiosas. Apesar do emaranhado trajeto
percorrido pelo dinheiro, ele, na verdade, nunca saiu das mãos da cúpula da
Universal. A Cremo é de propriedade da Unimetro – que, por sua vez, pertence
às duas empresas sediadas no exterior. No Brasil, a Investholding e a
Cableinvest são representadas por Alba Maria da Costa e Osvaldo Sciorilli,
executivos da Universal, ligados a diversas empresas do grupo e réus no
processo. Assim como o chefe, Alba e também Maurício Albuquerque e Silva,
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
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ex-diretor da Cremo e da Unimetro, são proprietários de imóveis em Miami.
O Gaeco sustenta que foi esse o esquema usado pela igreja para comprar, por
exemplo, a TV Record do Rio de Janeiro e a TV Itajaí, de Santa Catarina. Ao
todo, o império de comunicação da Universal reúne 23 emissoras de TV, 42
emissoras de rádio e várias outras empresas. O do bispo prospera na mesma
medida. Em 2007, ele se esmerava na construção de uma casa de 2 000 metros
quadrados em Campos do Jordão (SP), no valor de 6 milhões de reais. Naquele
tempo, já era proprietário de outra casa na mesma cidade, comprada onze anos
antes por 600 000 dólares. Somem-se a isso os imóveis de Miami e não restará
dúvida de que Macedo é um abençoado. Resta saber se à luz da lei tanta
prosperidade também poderá ser comemorada.
Jose Patricio/AE e Marcos Fernades
CASA DE DEUS, CASA DO BISPO
Um dos templos da Universal em Belo Horizonte e a casa construída por Edir Macedo em Campos do Jordão
Com reportagem de Marina Yamaok
UM CORPO DE DUAS CABEÇAS
Nem por milagre é possível dissociar a Record da Igreja
Universal.
Até o presidente da emissora mora em uma casa pertencente
à Cremo, empresa acusada de lavar dinheiro para os bispos
Marcelo Marthe
Fotos Ricardo Benichio e Thiago Bernardes
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
4 de 19 16/8/2009 16:19
O ESPÍRITO E A CARNE
Um dos bispos do Fala que Eu Te Escuto e os participantes do reality show A Fazenda (à dir.): as duas faces de
várias moedas
Na semana passada, o
profano e o religioso se
confundiam na programação
da Rede Record. No horário
nobre, o Jornal da
Record reagiu às denúncias contra Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do
Reino de Deus, por meio de reportagens que atacavam o Ministério Público e a
concorrente Globo. De madrugada, um programa da própria igreja veiculado na
emissora, o Fala que Eu Te Escuto, repetia as mesmas reportagens à
exaustão. É mais uma evidência de que, a despeito das afirmações de
independência da emissora, Universal e Record são metades inseparáveis de
um só organismo. Pessoas ligadas à igreja ocupam a maioria dos cargos de
direção da emissora. A Universal repassa anualmente à Record montantes
crescentes de recursos – foram 240 milhões de reais em 2006, 320 milhões em
2007 e 400 milhões em 2008. Pertencem a ela, ainda, alguns dos principais
imóveis onde a Record está sediada. Boa parte das regalias de seus executivos
não sai do caixa da própria emissora: na semana passada, VEJA constatou que
um deles mora num imóvel pertencente à Cremo, uma das empresas do
esquema de lavagem de dinheiro denunciado pelo Ministério Público.
Nos últimos cinco anos, Macedo comandou um esforço de marketing para
desvincular a imagem de seu império de comunicação das atividades religiosas.
A rede investiu centenas de milhões de reais para modernizar sua programação
com novelas como Poder Paralelo e o reality show A Fazenda. O
televangelismo, antes salpicado por vários horários ao longo do dia, foi restrito
às madrugadas – e se adotou o discurso de que a Universal é apenas uma
anunciante como outra qualquer. Não é. Levantamento do Coaf, órgão do
Ministério da Fazenda responsável pela fiscalização das operações financeiras
no país, mostrou que a Record é a segunda entre as cinquenta principais
beneficiárias de transferências bancárias da Universal (a primeira é própria
igreja). A compra dos horários na madrugada é um modo de justificar do ponto
de vista legal esse aporte vultoso de recursos, que representa uma vantagem
competitiva e tanto para a Record diante das concorrentes. A Universal paga à
emissora um valor acima de 200 000 reais por hora numa faixa em que ela
obtém mísero 1,4 ponto de ibope – enquanto a Globo fatura em média 50 000
por hora no mesmo período, e com audiência bem maior, na casa dos 6
pontos (veja quadro abaixo). Apesar dessa distorção comercial, até agora não
se questionou a fórmula de legalização desse duto que abastece a Record com
o dízimo dos fiéis.
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
5 de 19 16/8/2009 16:19
Bispos "licenciados" ocupam os cargos-chave da Record. Honorilton Gonçalves,
um dos denunciados pelo Ministério Público, é o mandachuva da emissora. Os
bispos respondem ainda pela área de engenharia e vendas internacionais. Os
"obreiros" da Universal, ajudantes leigos, ocupam postos intermediários e
funções como as de faxineiro e segurança. A igreja paga para que fiéis e
pastores façam cursos como jornalismo e administração, com o intuito de
aproveitá-los nos quadros da Record. O atual presidente da emissora, Alexandre
Raposo, vive com a família em uma casa num condomínio de luxo em Barueri,
na Grande São Paulo, que – conforme VEJA apurou – está registrada em
cartório como parte de um conjunto de lotes pertencentes à Cremo
Empreendimentos (a assessoria de imprensa da Record limita-se a informar que
Raposo vive "num imóvel alugado"). As instalações mais importantes da rede em
São Paulo não estão no nome da Record, mas da Igreja Universal. Incluem-se aí
o terreno principal da sede da emissora, na Barra Funda, e o edifício no bairro
dos Jardins, área nobre da cidade, em que funcionam sua assessoria de
imprensa, o departamento comercial e o Instituto Ressoar – braço filantrópico da
Record. A emissora alega que paga aluguel mensal pela ocupação do prédio nos
Jardins – e não confirma a propriedade do terreno na Barra Funda.
A comunhão espiritual entre Record e Universal também se dá pela via contrária:
a igreja se utiliza fartamente dos recursos e do material produzido pela emissora.
Num dos QGs de Edir Macedo – o templo localizado na Avenida João Dias, em
São Paulo, onde ele e seus principais auxiliares moram quando estão na cidade
–, carros de reportagem da emissora ficam à disposição dos bispos doFala que
Eu Te Escuto. As equipes do programa utilizam equipamentos da Record para
produzir entrevistas nas ruas – e seus repórteres exibem o microfone com o
logotipo da rede. Nos bastidores da emissora, artistas e jornalistas reclamam de
ver suas atrações na Record serem recicladas no programa dos bispos – sem
ganhar adicional de salário por isso.
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
6 de 19 16/8/2009 16:19
Com reportagem de Bruno Meier
Por que os fiéis doam tanto
Para ganhar a bênção divina, curar-se de doenças, conseguir
emprego ou pôr fim a outras aflições. É uma prática antiga, que
está no cerne de todas as religiões, mas que a Igreja Universal do Reino de Deus elevou a um patamar inédito.


Adriana Dias Lopes e Fábio Portela
Fotos Jorge Junqueira/Divulgação/Reprodução
ARQUIVO DE ARTIGOS ETC: Especial A Igreja Universal sob acusação http://arquivoetc.blogspot.com/2009/08/especial-igreja-universal-sob-...
7 de 19 16/8/2009 16:19


O REBANHO E O PASTOR
À esquerda, milhares de fiéis lotam um templo da Igreja Universal, no Rio de Janeiro, prontos a fazer doações. À
direita, o bispo Edir Macedo, em 1995, não esconde sua satisfação ao pôr a mão em um bolo de dólares durante
culto realizado no Madison Square Garden, em Nova York
A Igreja Universal do Reino de Deus é uma potência tanto do ponto de vista
religioso quanto do econômico – e uma coisa tem tudo a ver com a outra. Os
bispos liderados por Edir Macedo arrastam multidões a seus cultos e
conseguem fazer com que elas doem verdadeiras fortunas à igreja. A Universal
ocupa o terceiro lugar no ranking das maiores instituições religiosas do país,
atrás apenas da Igreja Católica e da Assembleia de Deus, também pentecostal.
O bispo Macedo controla um império da fé que conta com 4 700 templos,
espalhados por mais de 1 500 cidades, em 172 países. Segundo as estimativas
mais recentes, seu rebanho já chega a 8 milhões de pessoas. Essa massa de
fiéis é a responsável pelos exuberantes resultados financeiros ostentados pela
igreja. A cada ano, a organização do bispo Macedo recebe 1,4 bilhão de reais
em doações.
Não há nenhum pecado no fato de uma igreja pedir donativos aos fiéis para
sustentar suas atividades. Organizações religiosas também precisam de
dinheiro para se manter – é uma prática prevista em lei e que goza de imunidade
fiscal. A doação religiosa remonta a Abraão, o personagem bíblico que decidiu
repartir seus ganhos com Deus. Ele doou parte do espólio de uma guerra a um
sacerdote chamado Melquisedeque como forma de gratidão por ter sido
abençoado. O bispo Macedo, portanto, não inaugurou nenhum capítulo novo na
história das religiões ao pedir doações, mas é inegável que ele levou esse hábito a um patamar inédito.


Fernando Cavalcanti CONSELHO DA IGREJA

"Em 2007, eu estava em dificuldades
financeiras e pedi aconselhamento a um
pastor da Universal. Ele disse que minha vida
só melhoraria se eu doasse dinheiro à igreja.
Contei a ele que meu marido estava com 2
800 reais guardados em casa, pois havia
vendido um carro. O pastor disse que era
pouco e perguntou se eu não conseguiria
mais. Respondi que havia também 400 reais
separados para o aluguel. Ele pediu que eu
inteirasse 3 000 reais e levasse à igreja na
mesma hora. Fiz o que ele mandou. Quando
meu marido descobriu, ficou muito bravo. No
dia seguinte, fomos ao templo pedir ao pastor
para devolver o dinheiro. Ele disse que era
impossível, falou que eu estava com um
encosto e ainda mandou meu marido fazer
um BO contra mim por furto. Hoje, me
arrependo de ter caído naquela conversa."
Simone Vitório, 31 anos, cabeleireira (ao
lado do marido, Aparecido)
Macedo arrecada muito porque tem método: ele colocou o dinheiro no centro de
seu discurso teológico. Se os católicos veem na doação uma oportunidade de
praticar a virtude da caridade, a Universal tem uma visão muito mais pragmática
do assunto. A igreja se inspirou nos preceitos da Teologia da Prosperidade,
criada por pentecostais americanos no início do século XX, para desenvolver
uma linha de raciocínio na qual o fiel faz um "toma lá dá cá" com Deus. Na
Universal, ensina-se que a felicidade terrena é uma concessão divina. Apenas
quem é abençoado consegue ter uma vida livre de sofrimentos e repleta de
saúde e prosperidade material. Para alcançar a graça, no entanto, é preciso
viver fervorosamente a experiência da fé e, sobretudo, demonstrá-la. E a melhor
forma de fazer isso é entregar dinheiro aos representantes de Deus – no caso,
os bispos da Universal – para que ele seja misticamente multiplicado. A doação
é um investimento. Quanto mais o fiel der à igreja, mais receberá de Deus no
futuro.
A principal modalidade de doação é o pagamento de dízimo. Cada seguidor da
igreja entrega 10% de seus ganhos mensais para financiar a obra de Deus.
Além disso, os pastores estimulam doações extras – eles precisam cumprir
metas de arrecadação para ter prestígio dentro da igreja. "Durante os cultos, é
comum ouvir frases do tipo: 'Hoje precisamos de 10% para o Pai, 10% para o
Filho e 10% para o Espírito Santo'. Eles são extremamente criativos", diz o
sociólogo Ricardo Mariano, da PUC do Rio Grande do Sul. Duas vezes por ano,
é organizada em todos os templos a Fogueira Santa de Israel. Trata-se de uma
campanha de arrecadação suplementar em que os fiéis escrevem pedidos em
pedaços de papel e os pastores se comprometem a levar as anotações até
Israel, onde estariam mais perto de Deus. Paralelamente, cria-se um clima de
catarse nos templos e as pessoas são estimuladas a fazer doações altíssimas
para mostrar a Deus que aceitam se sacrificar pela igreja. Muitos doam todo o
dinheiro que têm e, depois disso, joias, relógios, carros, computadores e até
imóveis.
QUEM TEM MAIS FÉ DOA MAIS
"Fiquei muito decepcionado com a Igreja
Universal. Dei tudo o que podia em busca de uma
vida mais feliz. Lá, me diziam que a fé se mede
com dinheiro – quem tem mais fé doa mais à
igreja. Quem tem fé pequena doa pouco. Numa
das campanhas da Fogueira Santa, quando os
fiéis dão o que podem e o que não podem, fiz um
esforço enorme. Vendi uma chácara que eu tinha
e dei tudo para a igreja. Também entreguei meus
salários, 13º, férias, vale-transporte e tíqueterefeição.
Pegava empréstimo em bancos para
dar aos bispos. Eu só queria levar uma vida
normal, curar minha depressão, casar, ter filhos.
Fiz de tudo, mas nada aconteceu. O que restou
foi tristeza e angústia. E muitas dívidas também."
Edson Luis de Melo, 45 anos, aposentado (na
foto, com a mãe, Dulce)
A maioria dos seguidores de Edir Macedo, gente humilde, com renda familiar de
três salários mínimos e que estudou, em média, até a 6ª série do ensino
fundamental, aceita esse discurso e se mostra satisfeita em ajudar a engordar o
caixa da organização. Eles acreditam que, de alguma forma, são beneficiados
ao se desfazer de suas economias. Mas o fervor pecuniário dos bispos tem
levado muitos fiéis a enfrentar a ruína financeira no afã de agradar a Deus. Há
gente que, depois de chegar à conclusão de que estava sendo ludibriada, decide
entrar na Justiça para reaver o dinheiro que entregou ao bispo Macedo.
Maria Moreira de Pinho, de 72 anos, que vive em São Paulo, é uma dessas
pessoas. Ela entrou na Universal em 1991. Em seis anos, vendeu dois
apartamentos, algumas ações e as duas máquinas de costura, sua antiga forma
de sustento, para arrecadar dinheiro para a igreja. Entregou mais de 100.000
reais aos pastores. "Dei tudo o que tinha pela promessa de ser abençoada", diz.
Anos depois, na miséria, ela se revoltou. "Como alguém que passa necessidade
e tem de morar de favor pode se considerar abençoada?", indaga. Maria decidiu
processar a Universal para reaver seu dinheiro. Apesar disso, não perdeu a fé.
Continua evangélica, mas passou a frequentar a Igreja Internacional da Graça
de Deus, do cunhado de Edir Macedo, o missionário R.R. Soares. "Agora, pago
só o dízimo. Estou aliviada por não ter mais de fazer a Fogueira, prometer
dinheiro, vender coisas para dar à igreja", afirma ela. Maria encarna o
pensamento médio do cristão pentecostal. Não está arrependida por ter dado
dinheiro, mas por não ter recebido a bênção divina em troca. O "toma lá dá cá"
não funcionou. Para evitar defecções como essa, os pastores dizem que, se a
graça divina não é concedida, a culpa nunca é de Deus, mas do próprio cristão,
que teve pouca fé e não se empenhou como deveria. Como se redimir?
Aumentando o ritmo das doações, é claro.
Manoel Marques
EU FAZIA LAVAGEM
CEREBRAL
"Para me tornar pastor, tive de
vender minha casa e doar o
dinheiro à igreja. Disseram que era
um jeito de provar que Deus estava
no meu coração. Quando comecei
a pregar, participava de reuniões
periódicas para falar sobre metas
de arrecadação. Eu fazia uma
verdadeira lavagem cerebral nos
fiéis para convencê-los a doar mais
dinheiro. Precisava levantar 150
000 reais mensais em doações e,
depois, aumentar 20% a cada mês.
Cheguei a ir para o hospital,
tamanha a pressão. Houve um mês em que consegui apenas 120 000 reais. Por não bater a meta, fui
xingado de burro e endemoninhado
por um bispo. Depois disso, decidi abandonar a Universal."
Jenilton Melo dos Santos, 44 anos, ex-pastor.

Exemplos de fiéis da Universal que ficaram na miséria se acumulam. Há casos trágicos, como o do ex-porteiro Edson Luis de Melo, que sofre de depressão severa e entregou cada centavo de seu modesto patrimônio na esperança de ser curado. "Ele achava que a igreja poderia salvá-lo do sofrimento psicológico.
Quando não estava trabalhando, estava no culto. No final, doava todo o salário.
Não sobrava nada para ele. Esses cinco anos o levaram à falência e à loucura", diz sua mãe, Dulce, que precisou interditar o filho na Justiça para impedi-lo de continuar doando. Outras histórias beiram o anedótico, como a de Gláucio Verdi, que ficou apenas um ano na Universal e acabou com o nome sujo na praça.
Verdi passou a frequentar cultos em 2004, quando estava desempregado. Entregou um cheque pré-datado de 1 000 reais ao pastor, sem ter dinheiro no banco. Ele esperava vender uma lambreta para cobrir o pagamento. Como não conseguiu, pediu que o cheque fosse devolvido. Nada feito: a Fogueira de Israel
não admite passo atrás. A Universal depositou o cheque de Gláucio e ele está no cadastro negativo do Serasa até hoje.
Todo grupo religioso, seja qual for sua origem, deve ter o direito de professar sua fé em paz. Esse é um dos pilares que sustentam o estado democrático de direito. Perseguições de caráter religioso sempre estiveram entre as piores monstruosidades perpetradas pela humanidade. Mas quem se propõe a guiar um
rebanho deveria saber que uma alma que busca conforto na religião para superar um momento de fragilidade emocional atravessa um período de vulnerabilidade. É capaz de tomar atitudes impensadas, com consequências drásticas para seu destino.

O padre gastão
Fabio Gonçalves/Ag. O Dia

SOB SUSPEITA
Steckel esteve à frente das finanças da Arquidiocese do Rio de
Janeiro por pouco mais de um ano. Não tem, assim, um tamanho Universal, mas não deixa de ser um escândalo. A Arquidiocese do Rio de Janeiro está promovendo uma sindicância interna para apurar malversação de
recursos e desvio de verbas entre janeiro de 2008 e abril deste ano, durante a gestão do cardeal-arcebispo dom Eusébio Scheid. O pivô da crise é o padre Edvino Steckel, responsável
pelas finanças da arquidiocese, que tem 200 funcionários, uma folha de pagamento de 400.000 reais e é dona de centenas de imóveis na cidade. Em pouco mais de um ano, o padre
adotou critérios de administração bem pessoais, digamos. Comprou um carro oficial avaliado em 85 000 reais e decorou sua sala com dois sofás e duas poltronas ao custo de 52 000
reais. Os gastos do padre Steckel eram conhecidos, assim como seu gosto por vinhos caros e suas boas relações com socialites e políticos cariocas. Até abril, quando dom Scheid
passou o comando da arquidiocese para dom Orani Tempesta, eram vistos como simples extravagâncias. Foi quando veio a público a compra de um apartamento de 500 metros
quadrados, numa das áreas mais caras da cidade. O preço declarado foi de 2,2 milhões de
reais. Steckel foi afastado. Se ficar caracterizado o desvio de dinheiro, o caso será levado à polícia.

O culto à prosperidade.

Os evangélicos, e em especial os da vertente pentecostal,
ajudaram a criar na América Latina um ambiente social
favorável à ética do trabalho e da conquista pessoal.

FERVOR Culto evangélico em Santiago do Chile: na América Latina, 40 milhões são pentecostais. Os escândalos envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus são apenas uma face feia de um movimento religioso que, em pouco mais de 100 anos,
construiu na América Latina uma história inspiradora, estendendo a mão àqueles que buscavam conforto espiritual em uma nova fé. Os evangélicos são herdeiros de uma tradição protestante que encontrou solo fértil nos Estados Unidos, baseada no comprometimento pessoal com Cristo e na adesão estrita à Bíblia. A vertente evangélica mais bem-sucedida no subcontinente é a pentecostal, que une a ortodoxia bíblica à ênfase na salvação por meio de milagres. Dois em cada três evangélicos latino-americanos são pentecostais ou
neopentecostais – subcorrente que inclui a Igreja Universal. Na América Latina, aonde chegaram por meio de missionários americanos e europeus, as igrejas evangélicas difundiram a ética do trabalho e da realização pessoal e deram um senso de comunidade aos migrantes rurais que vinham para as cidades. A
flexibilidade na hierarquia religiosa – qualquer um pode ser pastor, mesmo sem estudos – também ajudou a conquistar adeptos, principalmente entre as massas iletradas. Nos últimos quarenta anos, a população evangélica na América Latina pulou de 15 milhões para mais de 60 milhões de fiéis. Elas seguem uma grande variedade de denominações, algumas autóctones, outras filiais de igrejas brasileiras e americanas.

O pentecostalismo, com sua doutrina do bem-estar econômico indissociável da espiritualidade religiosa, teve o mérito de barrar o avanço de ideologias revolucionárias de esquerda na América Latina. As novas fés protestantes abordam o descontentamento social de maneira radicalmente diferente das
teorias marxistas. Para os pentecostais, a pobreza é resultado do fracasso pessoal, não de um sistema econômico injusto. Na década de 70, quando as igrejas pentecostais começaram a crescer mais rapidamente na América Latina, o foco no conforto espiritual e na realização material serviu como contraponto à
Teologia da Libertação, aquela estranha concepção marxista de catolicismo que transformou Jesus Cristo numa espécie de Che Guevara da Antiguidade.

domingo, 16 de agosto de 2009

PAPA ELOGIA ARCEBISPO HOMOSSEXUAL






O PAPA ELOGIA O ARCEBISPO HOMOSSEXUAL





Em 28 de junho de 2009, o Papa Bento XVI enviou Calorosa mensagem de elogio para Juliusz Paetz, antigo Arcebispo de Poznan (Polônia), no 50º aniversário de sua ordenação sacerdotal. Quem é Paetz? Que fez para merecer tal homenagem?
Desde o ano 2000, Paetz tem sido repetidamente acusado por abuso sexual de seus seminaristas do Seminário de Poznan. As acusações contra ele se tornaram públicas em fevereiro de 2002, depois de uma reportagem publicada no jornal polonês Rzeczpospolita. A reportagem afirmou que o comportamento de Paetz foi tão notório e censurável, que o reitor do seminário barrou a sua entrada para visitas.
O Arcebispo Paetz, que apresentou sua renúncia por estar sendo acusado de abuso sexual de seminaristas, acaba de ser honrado pelo Papa
Quatro seminaristas fizeram acusações formais descrevendo circunstâncias em que Paetz supostamente os induziu a manter contatos sexuais. Em vista do escândalo que estava sacudindo a Polônia, 43 intelectuais polacos de Cracóvia e Varsóvia assinaram uma carta pedindo ao arcebispo para se demitir do cargo até que a situação ficasse esclarecida.
O jornal também afirmou que cartas que descreviam as acusações contra o Prelado foram enviadas no começo do ano 2000 ao secretário particular do Papa, o bispo Stanislaw Dziwisz — hoje Cardeal de Cracóvia — e ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Joseph Ratzinger, o Papa atual. Tais cartas foram simplesmente ignoradas.
Como a pressão continuou aumentando, foi enviada a Poznan uma comissão especial do Vaticano para fazer uma investigação. Mais de 40 testemunhas foram interrogadas no total. Segundo fontes não oficiais, a maioria delas confirmou as acusações (as fontes são referidas em meu livro
Vatican II, Homosexuality and Pedophilia, pp. 284-285).












O Arcebispo Paetz, que apresentou sua renúncia por estar sendo acusado de abuso sexual de seminaristas, acaba de ser honrado pelo Papa
Quatro seminaristas








Por causa da investigação e do clamor crescente contra seu escandaloso comportamento, o Arcebispo Paetz apresentou sua renúncia na idade de 67 anos. Foi aceita por João Paulo II em março de 2002. Não obstante, permaneceu na Cúria de Poznan, participando de muitos eventos públicos.
Sob o pontificado de Bento XVI, o Arcebispo Paetz continuou desfrutando de uma boa posição. Em maio de 2006 foi mostrado pela televisão saudando o Papa durante sua peregrinação à Polônia. Em junho de 2007 foi figura de maior destaque na Jornada da Juventude em seu país. Também esteve presente em várias audiências com o Papa Bento em Roma, onde é dono de luxuoso apartamento. Em abril de 2009, como prelado em situação regular, foi visto participando da celebração do aniversário da Faculdade de Teologia em Poznan (The Tablet, 4 de julho de 2009, p. 31).
Mas as acusações contra Paetz vão além dos abusos sexuais de seminaristas. De fato, em novembro de 2008 uma comissão parlamentar polonesa foi criada para investigar seu passado depois que a imprensa revelou que Juliusz Paetz havia atuado como informante do regime comunista, enquanto trabalhava no Vaticano entre os anos 70 e 80.
Por que tanta complacência?
Dado este passado tão sombrio, como explicar a decisão de Bento XVI de honrar o Prelado? Não tenho explicação precisa, mas o fato é que em 28 de junho de 2009 o Papa enviou-lhe uma mensagem pelo 50º aniversário de sua ordenação sacerdotal. Seu telegrama foi publicado pelo jornal semanal da Arquidiocese de Poznan, Przewodnik Katolicki. Nele, Bento o felicita pelo seu "frutífero" e "saudável trabalho para o bem da Igreja" que havia realizado na Polônia e no estrangeiro. Bento também disse que "guiando vosso rebanho, destes um testemunho de fé na ressurreição de Cristo que afastou todo temor". Ademais, acrescentou que "venerando Maria como Mãe da Igreja e Rainha da Polônia com amor de filho e a piedosa veneração dos santos e beatos de vossa terra, junto com outros trabalhastes para o progresso espiritual" (The Tablet, idem).
O Pe. Pawel Deskur, editor do semanário da arquidiocese, confirmou que o Arcebispo Paetz estava "ainda ativo" na Hierarquia polonesa, e que o Prelado tinha solicitado pessoalmente que o telegrama do Papa fosse publicado. A Televisão Católica Polaca (KAI) transmitiu a missa solene na Catedral de Poznan pela celebração do 50º aniversário da ordenação de Paetz.
Comentando a respeito da mensagem do Papa, o jornal de grande circulação Gazeta Wyborcza assinalou que essas aparições públicas do Arcebispo Paetz causaram "desagrado em muita gente dessa região". E o diário Polska disse que o "grande respeito" do Papa pelo Arcebispo foi "surpreendente em vista das severas declarações de Bento XVI sobre o clero que viola o voto de castidade" (The Tablet, 4 de julho de 2009, p. 31).
Considero que meus leitores têm o direito de serem informados sobre essa mensagem de felicitação que até agora os meios de comunicação norte-americanos não divulgaram.
Talvez não seja supérfluo recordar aqui que, em recente documento do Vaticano, que autoriza os Bispos a afastar os sacerdotes escandalosos, foi cuidadosamente estabelecido que a autorização não é aplicável aos casos de sacerdotes homossexuais ou pedófilos. Tais casos continuam a ser julgados pela própria Santa Sé. A mesma proteção oferecida aos sacerdotes homossexuais e pedófilos seria também aplicável aos Prelados com vícios análogos. O mínimo que se pode dizer sobre tal procedimento, é que pelo menos ele é muito coerente, realmente...

sábado, 15 de agosto de 2009

LIÇÃO DE PERSEVERANÇA.











Como os pássaros, também sofremos as amarguras na vida cotidiana.



Mais, por mais escuro que possa parecer o túnel da provação na nossa vida, dentro dele, envolto em trevas, iluminados, interiormente, por DEUS, podemos ver a vida, os homens, os acontecimentos em sua verdadeira essência, totalmente despidos de sua aparência enganadora.



As trevas do túnel não devem deter nossos passos.
Como as dificuldades não detém, as dos pássaros, que continuam na perseverança, de conseguir o desejado.



Nós, por mais longo que seja o túnel e por mas esperas que sejam as trevas, a ordem é prosseguir caminhando, porque ao sairmos dele, vislumbraremos uma nova luz que brilha com mais intensidade.
Um dia iluminado.







segunda-feira, 10 de agosto de 2009

RELAÇÕES IGREJA-ESTADO:

O INFERNAL "DE MONARCHIA" DE DANTE


Bento XVI propõe, com todas as letras, o estabelecimento de uma autoridade política mundial com poder efetivo sobre todas as nações.

Dante propôs uma chefatura política suprema para todo o gênero humano. Durante séculos "De Monarchia" constou do "Index Librorum Prohibitorum".

Trata-se de um Príncipe do mundo, no mundo e, em tese, para o mundo. A única coisa de que precisam os homens da Pólis dantesca é do Príncipe do mundo — que, de acordo com Jesus, não é outro senão Satanás

Relendo vários textos sobre a tão propalada encíclica Caritas in Veritate, na qual o Papa Bento XVI propõe, com todas as letras, o estabelecimento de uma autoridade política mundial com poder efetivo sobre todas as nações, a pretexto de garantir a cada uma a segurança (nº 67), ocorreu-me retomar o tema das relações entre a Igreja e o Estado. E fazê-lo tendo como parâmetro o autor de um erro, literalmente, dantesco: nenhum outro senão o próprio Dante Alighieri, que perpetrou o escrito De Monarchia, um compêndio de teses antieclesiásticas da pior cepa, dada a sua sutileza. Durante séculos esse livro constou do Index Librorum Prohibitorum, e poderia jazer, muito bem, no oitavo círculo do Malebolge, aquela parte do inferno onde o famoso poeta florentino pôs os falsificadores de doutrinas — eternamente atormentados por furiosa sede.

Nessa obra, contrariando o mais elementar bom senso, Dante propõe uma chefatura política suprema para todo o gênero humano,De Monarchia, I, 2). Vale dizer que, como preâmbulo “intelectual” para a defesa de algumas teses de sua filosofia política, o florentino se apóia em quimeras mitológicas romanas, como a travessia do rio Tibre por Clélia e o combate entre Enéias e Turno espécie de império universal ou, em suas palavras “Principado único com poder sobre todos os poderes temporais” ( (De Monarchia, II, 4), entre outros eventos lendários nos quais crê firmemente.

O humanismo na concepção da monarquia universal abre-se abismo intransponível entre as ordens espiritual e temporal

Mas tais fantasias de poeta são de somenos importância. O pior é que, fazendo uso de teorias vigentes entre os grandes pensadores da Cristandade medieval — como a correlação entre a lei divina, a lei natural e a lei positiva humana —, Dante acaba por distorcê-las para adaptá-las a suas teses humanistas. Sob o pretexto de que a paz universal (uma paz uma meramente humana, diga-se!) é o melhor de todos os meios ordenados à nossa felicidade (pax universalis est optimum eorum quae ad nostram beatitudinem ordinantur), ele nos aponta para a necessidade de haver um Príncipe único no mundo, que deve submeter todos os homens a um só querer (De Monarchia, I, 14). O detalhe é que esse Príncipe todo-poderoso nada tem a ver com Deus ou com a Igreja, e muito menos com o Papa, Vigário de Cristo, pois Dante simplesmente separara as ordens espiritual e material, abrindo entre elas um abismo intransponível. Trata-se de um Príncipe do mundo, no mundo e, em tese, para o mundo.

Não pelo Principado político universal, mas pela separação entre os poderes espiritual e material (que durante quase dois mil anos foi solenemente condenada pela Igreja), Dante hoje seria aclamado com estrépito por gente que — por mil e um meios políticos, e valendo-se de vultosos recursos financeiros — inocula em algumas elites de jovens talentosos o pior do humanismo católico. Mas na época em que a Igreja, por ordem expressa de Cristo, chamava para si a responsabilidade de fazer reinar sobre todos os povos a lei evangélica, certamente tal humanismo, sobretudo oriundo de um homem católico, não poderia ser tolerado. Daí o De Monarchia de Dante ter entrado no Index, em cujo pórtico se poderia muito bem colocar a famosa frase de sua "Comédia" que se lê na entrada do inferno: Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate. E veremos os porquês.

A lei única sob a qual os principados particulares (ou seja, todas as nações) devem obedecer ao dantesco Monarca universal tem como conteúdo, tão-somente, aqueles pontos comuns que, hipoteticamente, interessariam a todos os homens (De Monarchia, I, 14). Alguma semelhança do Principado dantesco com a ONU? Alguma semelhança com as teses dos nossos ecumenistas católicos contemporâneos, que jogam para debaixo do tapete a Verdade revelada para falar apenas de tópicos atinentes à lei natural, como se estes fossem o fundamento último da paz entre os homens? Na verdade, tal semelhança é quase uma identidade absoluta, pois, num e noutro caso, consideram-se as coisas escatológicas supratemporais e as humanas temporais como pertencentes a duas cidades absolutamente distintas e intocáveis entre si.

É claro que, como toda doutrina nefasta, esta também precisa valer-se de alguns slogans publicitários palatáveis — e Dante põe água na boca dos seus leitores, ao dizer que, em sua filosofia política, os governantes são senhores dos governados apenas com relação aos meios, mas, com relação aos fins, os governados é que seriam os senhores dos governantes, e, dentre todos, o Monarca universal seria o que, em tese, serviria altruisticamente a todo o gênero humano... Que alma boazinha a desse Príncipe! Deus do céu: se não fosse o autor de tal disparate o grande poeta do Trecento pré-renascentista, poderíamos dizer que esta é apenas uma piada de mau gosto.

O fundamento filosófico averroísta da monarquia universal

De toda forma, de que doutrina se valeria esse Monarca supremo, de acordo com Dante, para impetrar os seus atos de governança mundo afora? De alguma verdade sublime? Da Sagrada Escritura? Não. Dos escritos filosóficos (phylosophica documenta). Como se vê, estamos aqui muito próximos da República platônica, na qual o governo caberia aos filósofos, mas com uma diferença específica: os filósofos dantescos poderiam, no máximo, servir de conselheiros ao Mega Imperador mundial.

A sociedade civil, em si mesma, é considerada por Dante como o meio necessário para promover a civilização humana. Mas qual seria o ápice dessa civilização? Algo referido, pelo menos instrumentalmente, ao fim último que é Deus? Não. Pura e simplesmente o conhecimento humano. Este, sim, seria o fim gnóstico de toda a sociedade humana, como se frisa no Livro I desse tremendo De Monarchia. Mas que conhecimento seria esse por meio do qual os homens, reunidos em grupo, lograriam o seu fim? Pois muito bem: aqui entra um absurdo teórico sem tamanho, que é a aplicação da tese averroísta da unidade do intelecto possível à ordem política (De Monarchia, I, 5). Para Dante, somente o trabalho da humanidade inteira poderia levar ao ato a potência desse único intelecto possível (De Monarchia, I, 7). E tal coisa se tornaria possível sob o influxo político do poder do Monarca universal, que ajudaria toda a espécie humana a chegar a essa plenitude.

Neste ponto, para deixar as coisas mais claras, façamos um apontamento: em síntese, Aristóteles conceituara o “intelecto possível” (ou “passível”: o noûs pathetikós) como a potência do intelecto para atualizar todos os inteligíveis. Ou seja, trata-se da pura e simples capacidade que possui cada ser humano, individualmente, de atualizar toda a sorte de conhecimentos. Em resumo, cada um de nós tem o seu noûs pathetikós particular, o que se comprova quando passamos a saber, em dado momento de nossa trajetória individual, o que antes não sabíamos. Mas, de acordo com a tese de Averróis que fez Santo Tomás perder as estribeiras, haveria um só intelecto possível para toda a humanidade —, tese abstrusa refutada pelo Aquinate no magnífico De Unitate Intellectus Contra Averroistas. Ora, se houvesse um único intelecto partilhável potencialmente por toda a humanidade, isto implicaria dizer que o homem não pensa, mas é pensado, o que é absurdo. Isto o gênio filosófico do Doutor Comum não poderia aceitar, assim como vários outros corolários da tese averroísta.

Pois bem: Dante tenta aplicar a noção averroísta ao plano político para justificar a sua tese com uma espécie de analogia. Ora, da mesma forma como haveria, para a humanidade inteira, uma só operação própria (a partir do intelecto possível exterior a todos os homens individuais), assim também há de haver um reino superior a todos, por cuja atuação se alcance uma felicidade a que nenhum reino particular poderia chegar. “A missão do Imperador é conduzir o gênero humano à paz, submetendo-o a seu querer único” (De Monarchia, I, 14).

A mal disfarçada divinização do homem pelo viés político, além da recusa a obedecer ao primado espiritual superior: trata-se de um diabólico "non serviam" coletivo universal

O mais diabólico da tese dantesca está no fato de que, nela, o poder temporal não recebe do espiritual nem o seu ser, nem a sua autoridade, nem o seu exercício. No máximo, o Monarca supremo deveria algum tipo de reverência política ao Papa, mas apenas isto. A sua humana autoridade imperial pende, imediata e diretamente, de Deus (De Monarchia, III, 13), razão pela qual não se justifica dobrar-se a nenhuma outra autoridade, ainda que seja a Autoridade participada à Igreja pelo próprio Deus. Perceberam o que isto implica? Nada menos do que uma mal disfarçada divinização do homem pelo viés político, além da recusa a obedecer ao primado espiritual superior.

Haveria, pois, segundo Dante, dois fins últimos para o homem: por um lado, a felicidade perfeita que se logra nesta vida pelo exercício da virtude; e, por outro, a beatitude que se logra pela Graça, na outra vida (De Monarchia, III, 16). Como se vê, o princípio católico de que “a Graça aperfeiçoa a natureza” — expresso na lapidar fórmula Gratia non tollit naturam, sed perficit — neste contexto, torna-se inaplicável, porque entre a Graça e a natureza estabeleceu-se um hiato. Ou seja: a natureza humana já pode ser feliz nesta vida pelo exercício da virtude, apenas, razão pela qual não precisa da Graça aqui e agora. A única coisa de que precisam os homens da Pólis dantesca é do Príncipe do mundo — que, de acordo com Jesus, não é outro senão Satanás.

Mas do que um non serviam individual, trata-se de um non serviam coletivo universal.

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NOTAS:

De acordo com a lenda, Clélia seria uma Virgem romana que, segundo Tito Lívio, atravessou a nado o rio Tibre e, com este feito olímpico verdadeiramente impressionante, fez com que o rei etrusco Porsena desistisse de invadir Roma. Na mitologia romana, Turno é o comandante dos exércitos que se aliaram aos rútulos para expulsar Enéas e os troianos que, com a queda de Tróia, seguiram o destino de fundar uma cidade no Lácio, que mais tarde dominaria o mundo.

Como é notório entre os estudiosos da obra de Santo Tomás, um dos poucos momentos de ira em toda a vida do Angélico aconteceu quando deparou-se com a tese do intelecto possível, defendida pelo averroísta Siger de Brabante.

Diz Tomás de Aquino: “É claro, pois, que o intelecto é aquilo que há de principal no homem e se serve de todas as potências da alma e dos membros do corpo ao modo de instrumentos. (...) Portanto, se o intelecto de todos é único, segue-se necessariamente que só há um a pensar e um só a utilizar, pelo arbítrio de sua vontade, todas as coisas em que os homens se distinguem uns dos outros” [o que é absurdo] (De Unitate Intellectus, IV, nº 87)..

“Eu vos deixo a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração nem se atemorize. Ouvistes o que vos disse: Vou e volto para vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, pois vou para junto do Pai, porque o Pai é maior que eu. Eu disse-vos essas coisas agora, antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem. Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, mas ele não tem parte comigo”. (Jo XIV, 27-30). “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe do mundo” (Jo, XII, 31). “(...) Ele [o Paráclito] convencerá [o mundo] a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado” (Jo XVI, 11).

Nunca é demais lembrar que todo e qualquer pecado é, de alguma forma, um espelho do pecado de Lúcifer e, depois, do de Adão: o de buscar uma felicidade autonôma em relação a Deus. Exatamente o que Dante pretende para toda a humanidade: uma felicidade terrena perfeita, sem a necessidade da Graça divina — mas que se vale, isto sim, de um despótico império humano.

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Fonte: Blog Contra Impugnantes

Os subtítulos foram acrescentados.

domingo, 9 de agosto de 2009

RENÚNCIA AO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
















CARTA DE RENÚNCIA DE ARMANDO VALLADARES AO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS


O comunicado de imprensa da Human Rights Fundation (HRF) sobre os acontecimentos de Honduras não reflete a verdade nem relata historicamente os fatos tal como se sucederam.
Por esta razão, por meu desacordo absoluto com essa declaração, renuncio de forma irrevogável ao meu cargo


Sr.
Thor Halvorssen
Presidente de Human Rights Foundation (HRF)
Nova York

Meu caro Thor.
O comunicado de imprensa [1] da Human Rights Fundation (HRF) sobre os acontecimentos de Honduras não reflete a verdade nem relata historicamente os fatos tal como se sucederam.
Armando Valladares: coerência na sua luta em prol da liberdade
Agora estou na Itália, não tenho tempo para uma análise mais extensa.[2] Porém o Presidente Zelaya foi e é um traidor da Democracia. Elegeu-se enganando seus compatriotas. Quando chegou ao poder graças a essa fraude, mudou ideologicamente e começou a executar seu plano para aniquilar a democracia, como o fez Chávez na Venezuela, Morales na Bolívia, e Correa o está fazendo no Equador. Zelaya faz parte da grande conspiração neocomunista que pretende se apoderar da América Latina.
A estratégia tem sido a mesma: chegar ao poder através de eleições e depois mudar a Constituição, dissolver os Parlamentos e se perpetuar no poder, e ao final se declarar marxista como Evo Morales.
O que Zelaya fez para executar esses planos era ilegal. Quis mudar a Constituição para se reeleger. A Corte Suprema advertiu-o de que essa manobra era inconstitucional e ilegal. O Congresso também lhe comunicou que sua pretensão violava a Constituição hondurenha e era ilegal, ao contar com o apoio e o dinheiro de um governo estrangeiro (todo o material eleitoral veio da Venezuela em um avião enviado por Chávez).
Apesar das advertências da Corte Suprema, deu continuidade aos seus planos de aniquilar a Democracia em seu país, onde imperava a lei. Com base no império da lei a Corte Suprema deu ordem ao Exército (que não deve defender o Presidente mas a Constituição) que prendesse Zelaya e o expulsasse do país. Isso não é um golpe de Estado, não há militares governando Honduras.
Embora a OEA antes disso tivesse visto Zelaya atuar ilegalmente, não disse uma só palavra. Quando a Corte Suprema advertiu-o de que sua pretensão era ilegal, a OEA e os que hoje rasgam suas vestes observavam em silêncio cúmplice como o traidor Zelaya tratava de mergulhar seu país no totalitarismo e de transformá-lo em uma outra Venezuela, Bolívia ou Cuba.
O comunicado da HRF é sob o aspecto histórico incorreto, deixando-se levar pela covarde cumplicidade dos que, por falta de valor, deixam de fazer ou não se atrevem a dizer as coisas como são. Não fui informado previamente dessa declaração, nem de sua publicação, de que tive conhecimento aqui na Itália.
Por esta razão, por meu desacordo absoluto com essa declaração, renuncio de forma irrevogável ao meu cargo de Chairman da Fundação de Direitos Humanos (HRF), e também a qualquer cargo na mesma, seja de membro do Diretório Internacional ou qualquer outro. Rogo-lhe, como Presidente que tem o encargo das atividades diárias da HRF, que seja dado andamento para a minha renúncia, de minha parte tomarei a mesma providência.[3]
Armando Valladares
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NOTAS DO EDITOR DE SACRALIDADE:

[1] O Comunicado de Imprensa HRF pede a suspensão do governo antidemocrático de Honduras, publicado em 30 de junho de 2009 em Nova York, pode ser lido em espanhol no site da HRF.
[2] A Carta foi publicada em 02/07/2009 no site de exilados cubanos Nuevo Acción com o título Renuncia Armando Valladares a la Fundación de Derechos Humanos.



[3] A Fundação de Direitos Humanos é uma organização apolítica dedicada a defender os direitos humanos em toda a América. Tem sede em Nova York, 5ª Avenida. Integram seu Conselho Internacional o dissidente soviético Vladimir Bukovsky, o enxadrista Garry Kasparov, Elie Wiesel, Álvaro Vargas Llosa e outras personalidades de renome mundial. Integram seu Diretório o norte-americano Thor Halvorssen (Presidente), Armando Valladares (Secretário Geral) e demais Vogais ou Conselheiros.
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* Armando Valladares, ex-preso político cubano, é autor do livro autobiográfico Contra Toda Esperanza e ex-embaixador estadunidense ante a Comissão de Direitos Humanos de Genebra. Viajou à Itália para receber um prêmio internacional por seu trabalho jornalístico em defesa da liberdade em Cuba e no mundo inteiro, e de lá enviou a referida Carta de Renúncia.
— Tradução: André F. Falleiro Garcia

O SANGUE DE CRISTO INVOCADO EM CAMPANHA POLITICA EM HONDURAS.











HONDURAS E O SANGUE DE CRISTO

André F. Falleiro Garcia

Milhares de hondurenhos manifestaram apoio ao novo presidente Micheletti
Nesta tarde de 30 de junho houve imensa manifestação em Honduras a favor do novo presidente constitucional, Roberto Micheletti, que afirmou, referindo-se a Chávez: "... a esse senhor venezuelano que está ameaçando invadir nosso país, digo-lhe que aqui irá se defrontar com sete milhões e meio de soldados que defenderão sua pátria".
Enquanto isso, a deposição do presidente hondurenho Manuel Zelaya provocou outras repercussões no mundo. Lula, em visita ao ditador da Líbia — e sem nenhum rubor na face — pediu "respeito à democracia hondurenha", quer dizer, pediu apoio a Manuel Zelaya. E novamente manifestou-se no mesmo sentido, dizendo: "O que aconteceu em Honduras foi um ato insano". Os governos do Chile e México decidiram retirar seus embaixadores como medida de apoio ao presidente deposto. O Banco Mundial suspendeu todos os financiamentos para Honduras.
Zelaya invocou Deus e o Sangue de Cristo para fins revolucionários diabólicos
Zelaya discursou na ONU
Zelaya discursou na Assembléia Geral da ONU, que aprovou nesta terça-feira uma resolução na qual pede sua "imediata e incondicional" recondução como presidente "legítimo e constitucional". "Vou regressar por vontade própria e sob a proteção do Sangue de Cristo, por Deus e por meu povo", disse o ex-presidente. Desse modo invocou Deus para promover sua agenda que implementa a revolução neocomunista continental.
O presidente da assembléia,
Miguel D'Escoto, militante da Teologia da Libertação, liderou os aplausos a Zelaya. Frei Miguel D'Escoto, hoje à frente da ONU, já foi ministro do governo marxista que tomou o poder na Nicarágua em 1979, e tem grande tirocínio na arte de promover o "socialismo cristão". Outro adepto da Teologia da Libertação, o bispo Lugo, presidente paraguaio, logo mais provavelmente se manifestará, para confirmar sua participação na caravana que vai acompanhar Zelaya em sua anunciada viagem de regresso ao país.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que acaba de amargar derrota política nas eleições legislativas, anunciou que vai participar dessa viagem. O secretário da OEA José Miguel Insulza, também vai acompanhar Zelaya no retorno, ao lado de outros presidentes "companheiros" que anunciarão sua adesão conforme o script da montagem midiática que já está em curso.
O Sangue de Cristo deve ser semente de heróica resistência ao neocomunismo bolivariano
A sadia reação popular
Configura-se, assim, um cenário de isolamento e perseguição internacional contra Honduras. No panorama interno, não se pode dizer que houve omissão por parte das autoridades religiosas locais. Com efeito, o Bispo-Auxiliar de Tegucigalpa, Dom Darwin Andino, numa lúcida e corajosa declaração feita em uma rádio local, afirmou que a Igreja não apóia a realização da consulta popular que, em última análise, tornaria possível a reeleição presidencial de Zelaya, à maneira de Hugo Chávez, Hugo Morales e Rafael Correa: "Dizer que a Igreja Católica apóia tudo isto, é querer manipular a Igreja. E dentro desta Igreja eu sou Bispo, sou Auxiliar de Tegucigalpa, e não posso permitir que digam que eu, como bispo, apóio algo ilegal. O cristão não apóia nada ilegal. O cristão tem que apoiar o legítimo".
[1]
Manifestando preocupação em relação ao futuro do país, D. Darwin Andino afirmou ainda: "...O que se deu na Venezuela — e está se dando em Honduras — deu-se na Bolívia e no Equador. Eu, aqui, em tudo vejo a mão do presidente venezuelano Hugo Chávez. O país não pode entregar-se ao chavismo, nem a ninguém, pois queremos continuar sendo livres e independentes".
[2]
No grande show da comitiva de Zelaya, haverá a participação de altos prelados vaticanos? Se houver, será a presença efetiva de "companheiros de viagem" de batina.
O cardeal Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, demonstrou grande satisfação em sua visita ao ditador Raúl Castro, e poderia eventualmente ser um dos protagonistas do espetáculo. Nesse caso, se confirmada a hipótese, seria a ocasião histórica para a clara tomada de atitude de resistência em relação à política pró-comunista do Vaticano, por parte de D. Darwin Andino e dos católicos hondurenhos.
É uma blasfêmia a invocação de Deus e do Sangue de Cristo, feita por Zelaya, para favorecer a revolução bolivariana. Vamos aguardar os acontecimentos para conferir se os méritos do Sangue de Cristo serão aproveitados, em Honduras, para o estabelecimento de uma heróica resistência ao neocomunismo bolivariano sob o signo da Fé e da Pátria.

sábado, 8 de agosto de 2009

DECISÃO - SERVIDOR APOSENTADO



Servidor aposentado antes da EC 41 tem direito à equiparação de proventos com os da ativa.


Os servidores públicos aposentados antes da Emenda Constitucional 41 têm direito à equiparação dos seus proventos com a remuneração estabelecida para os servidores em atividade.


O entendimento é da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A discussão se deu em um recurso em mandado de segurança de um coronel reformado da Polícia Militar do Estado de Goiás que tentava reverter decisão da Justiça goiana segundo a qual o benefício concedido a servidores da ativa não era extensível aos aposentados. O objetivo do militar é ver reconhecido o direito à percepção de seus proventos de acordo com o subsídio pago aos militares em atividade. O relator, ministro Jorge Mussi, ao garantir ao militar o direito à gratificação, destacou o fato de que, quando da transferência para a reserva remunerada em 1985, constavam de seus proventos as incorporações de gratificação em decorrência do exercício no Comando do Policiamento do Interior, no valor de R$ 1.378,88. Essa gratificação passou a corresponder ao subsídio dos Comandantes Regionais da Polícia Militar, no valor de R$ 4.125,00 conforme determinou a Lei Delegada n. 8, de 15/10/2003. O ministro ressalta que a Quinta Turma já consolidou o entendimento de que "a passagem para a inatividade não exclui o servidor público da carreira a que pertence". Principalmente, continua o ministro, nesse caso em julgamento, em que o artigo 5º da Lei Delegada n. 8/2003 conferiu ao servidor ocupante de cargo em comissão o direito de optar por sua remuneração de origem, cumulada com o subsídio a que fizer jus pelo exercício do cargo comissionado, reduzido de um quarto.

AINDA TEMOS OUTRA GRANDE DECISÃO:
Demissão por repasse de senha de computador a terceiro para assinatura de ponto é legal.

A demissão de servidor que cede sua senha pessoal a terceiro com o objetivo de burlar o controle eletrônico de ponto não é desproporcional nem irrazoável. A decisão da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) mantém sanção imposta a técnico judiciário do próprio Tribunal. A Defensoria Pública da União (DPU) sustentou que o processo administrativo seria nulo em razão da presença de servidores não estáveis na comissão de sindicância, da falta de diligência do procedimento, da presença de testemunhos questionáveis e na falta de conhecimento pelo colegiado administrativo do teor do voto do relator originário. Alegou, ainda, que a chefia do servidor avaliava seu desempenho de forma positiva quanto ao zelo na manutenção do sigilo das informações a que tinha acesso. Já o Ministério Público Federal (MPF) opinou pela substituição da pena de demissão pela de suspensão por 30 dias, já que a senha não permitiria o acesso a dados sigilosos. O ministro João Otávio de Noronha apoiou seu voto parcialmente na própria manifestação do MPF para afastar as alegações da DPU. O parecer registra que não há prova, nem houve questionamento durante o processo disciplinar, de que os membros da comissão de sindicância seriam ocupantes única e exclusivamente de cargos em comissão, o que seria vedado pela ausência do requisito da estabilidade. Tampouco haveria prova, afirma o MPF, de que os ministros integrantes do Conselho de Administração do STJ não teriam tomado conhecimento do voto do relator – mais favorável ao ex-servidor. Conforme o MPF, além de dois pedidos de vista sucessivos, a matéria foi discutida por ao menos três sessões distintas, não podendo, por isso, alegar-se desconhecimento dos fatos e votos. Quanto às testemunhas, o MPF também afirma que eventual inimizade ou suspeição não foram, em nenhum momento, alegadas pela defesa, que acompanhou a tomada de todos os depoimentos, nem mesmo contraditadas. Além disso, afirma ainda o parecer, a comissão processante teria se baseado em outras provas, técnicas, como o controle de ponto e de catracas, para formar sua convicção. O relator acrescentou que, em relação ao excesso na pena aplicada, ele não existiria. O ministro Noronha afirmou que a pena proposta pelo MPF – suspensão de 30 dias – seria cabível ao servidor que, após ingressar no Tribunal e registrar no ponto eletrônico sua entrada, se ausentasse, deixando de trabalhar as horas lançadas. Mas, no caso, a situação fora mais grave: o repasse a terceiros da senha que dá acesso ao sistema eletrônico expõe a riscos as informações do Tribunal, atualmente armazenadas, em sua maioria, em meios digitais. “Ora, nada obstante o intento do impetrante de auferir vencimentos sem a respectiva contra-prestação de serviços – fato que por si é grave, pois denota a intenção de lesar a administração pública (no caso, empregador) –, não se pode desconsiderar que o impetrante deixou a descoberto a segurança do sistema de informática do STJ, a que tinha acesso em razão das atribuições de seu cargo. Daí o porquê de o fato amoldar-se perfeitamente ao estabelecido nas disposições do artigo 132, IX, da Lei n. 8.112, de 1990”, entendeu o ministro. Como esse dispositivo prevê de forma específica a pena de demissão e dispensa a comprovação de dano efetivo – não importaria a amplitude do acesso aos sistemas garantida pela senha ou o efetivo acesso a dados sigilosos –, não seria possível a aplicação do princípio da proporcionalidade. “O princípio da proporcionalidade serve para dosar a pena a ser aplicada, mas não para descaracterizar o tipo a que os fatos se subsumem”, concluiu o relator.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

As Cruzadas foram um acontecimento extraordinário na História

A CRUZADA DO SÉCULO XXI

As Cruzadas foram um acontecimento extraordinário na História, cuja glória subsiste e subsistirá para todo o sempre. Não importa que certos católicos — mesmo situados em altos cargos na Igreja — manifestem vergonha por elas. Estes, por não terem espírito cruzado, não são católicos militantes. Nem possuem o verdadeiro espírito católico. Pois está na essência da Igreja essa militância.


A glória das Cruzadas nunca se apagará

Católicos não militantes infiltraram-se na Igreja, trazendo para dentro dela um outro espírito. Não apresentam da Igreja senão certas formas exterioriores, nem têm consonância com a Roma dos Santos e dos Mártires. Tempo virá em que esses elementos infiltrados serão afastados e a Santa Igreja voltará a brilhar com toda a sua autêntica militância.

Quando os cruzados medievais saíam à luta, eram estimulados pela sociedade, voltada para os direitos de Deus e sua maior glória. Nessa época, dava-se grande valor à prática dos Dez Mandamentos e aos bons costumes ditados pela Moral católica. Uma grande sacralidade estava presente na Igreja e se difundia na ordem temporal.

Hoje, a sociedade é muito diferente: aprecia-se num rapaz a constante revolta contra a hierarquia, a irreverência e o descumprimento da lei moral. Numa moça, elogia-se sua sensualidade, ao invés da pureza e do recato. Numa criança, festeja-se o erotismo precoce e os modos tirânicos com que afirma a igualdade de direitos em relação aos seus pais. Ou aplaude-se a prática das virtudes ecológicas, que manifestam sua iniciação na religião da natureza. Os adultos sentem vergonha de serem honestos, a corrupção é tolerada por toda a parte e mesmo aplaudida. E a velhice, coitada, perdeu a sua sabedoria, dignidade e glória e aceitou ser identificada apenas com suas deficiências.

Por toda a parte as instituições são demolidas por seus próprios dirigentes. As elites em geral não exercem sua relevante função social e se voltam para o gozo da vida. Aqueles que deveriam proteger a Igreja, o Estado e a Civilização mostram-se indiferentes. Este é o atual ambiente revolucionário.

A guerra psicológica revolucionária desafio para os novos cruzados

Houve uma gloriosa Cruzada no século XX. Está havendo outra neste início de milênio. Na verdade, há um nexo de continuidade entre ambas. Sem elogios, sem festas, sem aplausos os novos cruzados avançam e enfrentam o ambiente revolucionário. Seguem os passos daquele que lutou antes deles — Plinio Corrêa de Oliveira, o Cruzado do Século XX. Aqui, percebem o murmúrio que solapa suas iniciativas. Ali, são vítimas da conspiração do silêncio que sufoca seus esforços e os apequenam. Acolá, recebem o bombardeio implacável das críticas e zombarias. Contra essas armas tão destruidoras do ânimo os cruzados medievais não tiveram que lutar.

Quem entra numa guerra sabe que receberá maus tratos e sofrerá muitos padecimentos causados pelo inimigo. Mas na cruzada em que estamos engajados, os mais próximos muitas vezes nos causam mais dor do que o inimigo.

Os adversários agitam os argumentos da impiedade, da blasfêmia, do vício. Mas os que deixaram cair por terra os estandartes que antes desfraldaram, mostram-se engenhosos ao suscitar questões de virtude, acusando os novos cruzados de serem orgulhosos por se terem lançado na luta por conta própria; mostram-se incoerentes e contraditórios, ao levantar questões de autoridade e legitimidade, apontando-os como revoltados, por não seguirem os líderes compromissados. E dizem contra eles tanta coisa mais, que são de causar inveja aos fariseus. Os acomodados, os omissos, os covardes, os traidores, estão dispostos a percorrer mares e terras para fazer um prosélito, para lhe transmitir, em altos brados ou de boca a ouvido, o comportamento politicamente correto estabelecido pelos manipuladores da opinião.

Ouve-se o ruído do campo de batalha. Não é possível ficar indiferente a ele. É o estrondo da maior guerra contra o bem da História. O objetivo da Revolução gnóstica é a conquista universal, para isso busca alcançar os cargos de chefia no Estado e os lugares de destaque na sociedade. Visa a conquista das almas, pela transformação das mentalidades, dos costumes, da maneiras de ser e de pensar. É uma guerra psicológica total, voltada para o domínio de todo o homem e das estruturas da civilização que o envolvem.

Estas são as estratégias mais freqüentes que a Revolução utiliza nessa guerra psicológica:

  • Anestesiar as reações contra o Progressismo na Igreja, desviando as atenções para os pequenos problemas individuais relativos aos interesses materiais, saúde e conforto.

  • Dividir aqueles que ainda mantém uma boa posição, ou descer sobre eles a cortina do silêncio. Se isto não for possível, persegui-los através do ridículo e da difamação.

  • Difundir o caos por todos os aspectos da vida social, de forma que os padrões de ordem, moralidade e sacralidade herdados da Civilização Cristã fiquem completamente evanescidos. E em seu lugar, surja um conjunto de problemas sem solução que atormente a toda hora a vida de cada pessoa.

Vaticano II o maior êxito da guerra psicológica revolucionária

Nos últimos quarenta anos, viu-se a progressiva demolição do maior bastião de luta contra a Revolução no mundo, onde estavam concentradas as maiores energias morais e espirituais da reação. A Igreja Católica foi alvo de uma ofensiva psicológica tremenda, não só da parte de seus adversários externos, mas também dos agentes revolucionários nela infiltrados com a intenção de destruí-la.


Vaticano II: calamidade para a Igreja

O Concílio Vaticano II foi uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja. Seus documentos oficiais silenciaram sobre os maiores inimigos da sociedade, o comunismo e o socialismo.[1]

Na fase pós-conciliar, o câncer do Progressismo instalado na Igreja gerou inúmeras metástases: a reforma litúrgica da missa, o ecumenismo, a política de aproximação do Vaticano com o mundo comunista etc. Nessa fase uma notável reviravolta se operou: a Igreja , que era o maior bastião da luta contra a Revolução, se transformou, com freqüência, em propulsor da Teologia da Libertação, do Feminismo, da Revolução Cultural e do Tribalismo.

Sendo a Igreja o cerne da Contra-Revolução, a infiltração progressista-modernista tomou de assalto o principal pólo da boa causa. De João XXIII a Bento XVI, os Papas conciliares promoveram os ideais revolucionários do Estado Moderno, como por exemplo, ao concederem apoio incondicional às Nações Unidas, favorecedora da implantação da República Universal no mundo.

Como o principal fomento da revolução social procede da ação ou omissão dos círculos eclesiásticos, tornou-se imperativo para os católicos militantes — mesmo leigos — travarem até dentro dos muros da Igreja a batalha contra o inimigo infiltrado.

Esta foi a Cruzada do Século XX. É também a Cruzada do Século XXI, que continuará até que venha o triunfo do Imaculado e Sapiencial Coração de Maria, tendo como mais importante arena de combate a própria cidadela católica.

O caos nova frente de combate da Contra-Revolução

Outro fator, antes secundário, ganhou importância, e hoje ocupa lugar central na estratégia revolucionária, a tal ponto, que toda a luta psicológica contra-revolucionária se torna desatualizada e ineficaz se não levá-lo em conta: a produção do caos.

A anarquia, a anomia e o caos estão se alastrando por toda a parte, atingindo muitos aspectos da vida social e individual:

A periferia urbana ardeu em chamas em 2005: prenúncio da morte da democracia francesa

Socialmente, os Estados Unidos entraram numa espécie de estado caótico de medo com o ataque terrorista contra as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Muita coisa mudou desde então. Em muitos aspectos o direito de ir e vir, que caracteriza a sociedade livre e ordenada, foi seriamente afetado. As pessoas não podem mais se deslocar e viajar como antes.

Com os conflitos da periferia urbana, a França em 2005 revelou sua completa vulnerabilidade diante da agitação islâmica, causada pelas concessivas leis de imigração. A própria democracia entrou em crise de identidade, devido a essas leis que colocam em risco a sua sobrevivência. Com milhões de muçulmanos admitidos como cidadãos, o povo francês está sentado sobre um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento espalhando a "dawa" (o caos, em árabe). Análogo perigo ameaça a Inglaterra, Alemanha e Espanha.

Economicamente, a recente bancarrota em cadeia de gigantescas instituições financeiras nos Estados Unidos projeta a perspectiva do caos econômico no Ocidente, apesar de alguns líderes latino-americanos se jactarem de que suas nações não serão afetadas.


A guerra assimétrica favorece a difusão do caos no Oriente Médio; acima, militantes do Hamas nos funerais de Arafat

Militarmente, o caos também está presente. O conflito árabe-israelense está estabelecido desde a fundação de Israel, e não há perspectivas de paz no horizonte. A guerra no Afeganistão não terminou e pode continuar nas próximas décadas. O mesmo pode ser dito com relação ao panorama do caótico Iraque.

Moralmente, o Ocidente abriu as portas para a sua própria destruição ao aceitar a promoção do homossexualismo, aborto, eutanásia, direito dos animais, feminismo etc. Nenhuma sociedade na História conseguiu sobreviver muito tempo depois de admitir essas aberrações. Quando esses comportamentos são considerados normais, entra em caos a formação das novas gerações.

Psicologicamente, essas várias modalidades de caos, somadas a muitos outros aspectos antinaturais da Revolução, produzem a quebra do psiquismo humano. Nota-se hoje muito mais pessoas sofrendo de problemas mentais e psicológicos do que antes.

Nessa grande ofensiva do caos, a missão da Contra-Revolução é esclarecer, descrevendo tão claramente quanto possível o que está errado e como as coisas deveriam ser, e apontar quem está por detrás do caos induzido. Nessa tarefa, os novos cruzados preparam os corações e as mentes para a vinda de uma era de ordem.

Espiritualmente, o processo de caos começou bem antes na Igreja. Desde o Concílio Vaticano II, a autoridade eclesiástica iniciou a autodemolição de suas instituições, doutrinas, tradições etc. A autodemolição da Igreja encontra-se hoje em adiantado estado de execução; a mesma mão que demole, espalha também o caos.

O aspecto pulcro desta Cruzada

Manter a posição de resistência diante das autoridades demolidoras é a primeira obrigação dos novos cruzados. Essa luta no momento une pessoas situadas principalmente nas três Américas e na Europa. É preciso que em todo mundo os que têm as mesmas bandeiras de luta se conheçam e se unam.


Plinio Corrêa de Oliveira

Este artigo — "A Cruzada do Século XXI" — é uma homenagem e um agradecimento ao prof. Plinio Corrêa de Oliveira, no ano do centenário de seu nascimento. Além do exemplo heróico como batalhador infatigável contra a guerra psicológica revolucionária, deixou-nos o modelo da plena identificação com a sacralidade.

Se São Francisco de Assis foi a pobreza, e São Bernardo o recolhimento, de Plinio Corrêa de Oliveira podemos dizer que foi, na História da Igreja, a sacralidade militante. Estandarte sempre desfraldado, viseira erguida sem ocultar sua face, aplicou todas as suas energias na grande gesta católica, e proclamou:

"Eu me tornei um Cruzado, um homem diferente de todos os homens. Porque Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a perfeição de todas as coisas, a realização do que há de mais perfeito, vai ser vingado agora por mim. Eu vou realizar a beleza da luta pela luta, da vingança pela vingança de Cristo Nosso Senhor, por Cristo Nosso Senhor."